O relator do processo de
impeachment na comissão processante do Senado Antonio Anastasia
(PSDB-MG) apresentou nesta quinta-feira proposta aos senadores em que
rejeita anexar os recentes grampos feitos pelo ex-presidente da
Transpetro Sergio Machado com políticos em que eles discutem o andamento
da Operação Lava Jato e estratégias para paralisar as investigações. O
pedido era considerado crucial para a defesa da presidente afastada
Dilma Rousseff, que afirma que políticos como o senador Romero Jucá
(PMDB-RR) e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) discutiram estratégias
para barrar a Lava Jato vinculando o tema ao afastamento da petista e,
por isso, todo o processo estaria maculado por "desvio de finalidade". A proposta de Anastasia ainda precisa ser submetida ao voto dos demais integrantes da comissão.
"Ao
solicitarem a juntada de gravações entre um ex-dirigente da Transpetro e
um senador e o inteiro teor dos respectivos autos, buscam reativar a
discussão relativa à preliminar do desvio de finalidade dos atos que
culminaram na instauração do presente processo de impeachment. De
imediato, percebe-se que os fatos indicados são totalmente estranhos ao
objeto deste processo", disse. A denúncia contra Dilma no processo de
impeachment leva em consideração o fato de a petista ter maquiado as
contas públicas ao assinar decretos de liberação de crédito
extraordinário, sem aval do Congresso, para garantir recursos e burlar a
real situação de penúria dos cofres do governo, e de ter atrasado
deliberadamente repasses para o Banco do Brasil enquanto a instituição
financeira era obrigada a pagar incentivos agrícolas do Plano Safra
2015.
Ao comentar o motivo
pelo qual os áudios de Sergio Machado não poderiam integrar o processo,
Anastasia afirmou que "generalizar o vício de vontade de agentes
isolados para o universo do plenário é o mesmo que nulificar o princípio
de presunção de legitimidade que é corrente em direito público". Em seu
parecer, o senador tucano também rejeitou pedidos para que outras
provas relacionadas ao petrolão, como o envio de dinheiro do
contribuinte brasileiro a países alinhados ao então governo petista,
como Cuba e Venezuela, fossem consideradas no impeachment. Pela proposta
do senador tucano, a presidente Dilma Rousseff deve ser intimada para
interrogatório no processo. Ela seria a última dos depoentes a se
manifestar, em data ainda não definida.
Por
ora, o senador listou 21 pessoas a serem ouvidas, entre as de defesa e
de acusação, para embasar a tramitação do processo, mas admitiu que as
oitivas podem ser ampliadas. Isso porque ele considerou que é possível
arrolar oito testemunhas por fato listado na acusação - cinco decretos
de crédito suplementar, além da operação de liberação de recursos do
Plano Safra, considerada uma pedalada fiscal. Com isso, em tese, é
possível que sejam listadas até 48 testemunhas para a defesa e o mesmo
número para a acusação.
"Algumas
das diligências requeridas (oitivas, documentos) pelos denunciantes,
pela denunciada e pelos senadores-juízes membros desta comissão se
mostram irrelevantes e impertinentes em face dos fatos que devem ser
apurados", disse Antonio Anastasia ao rejeitar boa parte das diligências
e dos requerimentos apresentados pela defesa, pela acusação e pelos
senadores que compõem a comissão do impeachment. Ele opinou por negar a
possibilidade de o doleiro Alberto Youssef e o empreiteiro Ricardo
Pessoa serem testemunhas no processo de impeachment. "São pessoas que
respondem a processos judiciais por força da Operação Lava Jato em razão
de participação em esquemas de corrupção que não envolvem diretamente
os fatos de que trata o presente processo", justificou. Na sequência,
listou testemunhas que considera relevantes, como o procurador do
Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) Julio
Marcelo de Oliveira, o ex-presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Luciano Coutinho e o
presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Leonardo Gomes
Pereira.
Anastasia negou
ainda pedido da defesa de Dilma para que um "organismo externo,
internacional e independente" faça perícia e auditoria por considerar
que "o TCU não dispõe da independência e imparcialidade necessárias por
estar atuando na análise das contas presidenciais de 2015". "Não se
harmoniza com o princípio da eficiência (...) que a sociedade arque com
custos extras para a contratação de organismo externo, tal como
requerido pela defesa, para realizar tarefa incumbida pelo direito
público ao órgão que já realizou tal tarefa". Além disso, o relator
sugeriu que a comissão processante requisite ao Banco Central, à
Comissão de Valores Mobiliários, ao Ministério da Transparência, ao
Tribunal de Contas da União e aos bancos públicos cópias de
procedimentos de investigação e de responsabilização sobre as pedaladas
fiscais e que o Tesouro Nacional apresente o impacto fiscal das
operações da entidade com o Banco do Brasil.
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