BRASÍLIA - O Tribunal de Contas
da União (TCU) identificou uma série de irregularidades, em especial
superfaturamento, no contrato de obras que levou o empreiteiro da OAS
Léo Pinheiro a pedir que o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner,
atuasse no Ministério dos Transportes para liberar um valor adicional de
R$ 41,76 milhões para uma obra em Salvador quando ele governava o
Estado.
O projeto, que
envolveu a construção de 14 viadutos e de uma via expressa de 4 km de
extensão até o porto de Salvador, passou pelo pente-fino de diversas
auditorias e monitoramentos realizados pela corte de contas desde a sua
licitação, em 2008, quando Jaques Wagner ainda era governador da Bahia.
O
pedido de ajuda de Pinheiro foi revelado anteontem, pelo Estado. Nele,
Léo Pinheiro solicita a Wagner que procure o então ministro dos
Transportes, Paulo Passos, para liberar um valor de R$ 41,760 milhões
ligado a esse contrato.
Ao se debruçar sobre o contrato de R$ 399,705 milhões
firmado entre a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia
(Conder), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
(Dnit) e a OAS, o tribunal identificou um volume de pedidos materiais
muito acima daqueles previstos no projeto básico do empreendimento.
Apenas com a inclusão de novos serviços no contrato, segundo os
auditores, o preço da obra foi inflado em pelo menos R$ 9,368 milhões.
As
alterações no escopo original do projeto também foram acompanhadas pelo
aumento de preços. Foi o que os auditores encontraram, por exemplo, ao
analisar a compra de vigas metálicas usadas na obra. O preço cobrado
pela empreiteira para este item foi de R$ 7,13 por quilo, quando o
orçamento original feito pela Conder com a Gerdau Aço Minas indicava
valor de R$ 3,62 o quilo. "A comparação do valor considerado pela OAS no
termo aditivo com o preço informado pela Gerdau indica uma
significativa diferença de 96,96% para elementos na mesma data base",
aponta o TCU, que estimou uma diferença de R$ 3,926 milhões somente em
relação ao serviço de fabricação desse material.
Depois de
realizar uma série de reuniões com representantes da Conder, da OAS e do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que era o
principal agente financeiro do projeto, o TCU concluiu que diversas
irregularidades não foram explicadas.Em 2010, o diretor de operações da
Conder, Armindo Gonzales Miranda, reconheceu que houve irregularidades
na quantidade de itens incluídos na obra, mas culpou o "curto espaço de
tempo" que o órgão baiano teve para informar o Dnit sobre as
necessidades do projeto. A pressa, justificou Miranda, teria ocasionado
os erros. O TCU verificou, no entanto, que a Conder teve quatro meses
para apresentar seus estudos em 2007, prazo que depois foi estendido em
mais seis meses. Armindo Gonzales Miranda teve seus argumentos
rejeitados e foi multado em R$ 3 mil.
Ligado ao Ministério dos
Transportes, o Dnit era o principal financiador do projeto, responsável
pelo aporte de R$ 339,3 milhões, entre contratações de obras civis,
despesas com desapropriações e construção de passarelas.
Defesa
O
Ministério dos Transportes, a Conder e o Dnit não se manifestaram sobre
o assunto, nem confirmam se os valores devidos do projeto foram
efetivamente pagos à empreiteira. A OAS também não havia se pronunciou
até a noite de ontem. Também procurado pelo Estado, o ministro da Casa
Civil, Jaques Wagner, não havia respondido à reportagem até a conclusão
desta edição. Em nota emitida anteontem, ele negou irregularidades.
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