BRASÍLIA - Fortalecido após a reforma ministerial, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva vai se movimentar agora para convencer a presidente
Dilma Rousseff a substituir o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por
Henrique Meirelles, que comandou o Banco Central de 2003 a 2010. Para
Lula, Levy tem “prazo de validade”, que vence quando o governo conseguir
aprovar as principais medidas do ajuste fiscal no Congresso.
O
ex-presidente já conversou sobre o assunto com a própria Dilma, que, no
entanto, não gosta de Meirelles. Os dois foram colegas no governo do
petista e protagonizaram duros embates. Lula sugeriu Meirelles para
Dilma antes mesmo da nomeação de Levy. Não emplacou. Agora, porém,
avalia que a mudança na Fazenda não pode passar do primeiro semestre de
2016.
Três interlocutores do ex-presidente relataram ao Estado que
os próximos alvos de Lula, após o aumento de sua influência no Palácio
do Planalto, são Levy e a política econômica. Não é só: ele também quer a
troca do ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo.
Vice.
Na segunda-feira passada, numa reunião com Michel Temer, em São Paulo,
Lula disse que o vice-presidente seria o nome ideal para a Justiça.
Disposto a concorrer novamente ao Planalto, em 2018, ele chegou a pedir a
Dilma a demissão de Cardozo na reforma do primeiro escalão, sob o
argumento de que o ministro não controla a Polícia Federal e permite
“vazamentos seletivos” contra o PT na Operação Lava Jato.
Sob
pressão, Dilma cedeu aos apelos do padrinho para pôr Jaques Wagner na
Casa Civil e despachar Aloizio Mercadante de volta para o Ministério da
Educação, mas não aceitou dispensar Cardozo no auge da Lava Jato.
Negativa. “Isso não procede”, disse Lula ao Estado,
em resposta enviada por e-mail, ao ser questionado sobre sua intenção
de trocar Levy e Cardozo. “Eu aprendi, no exercício da Presidência, que a
escolha de ministros é de responsabilidade exclusiva de quem é
presidente. A presidenta terminou de concluir uma importante reforma
ministerial, para superar as dificuldades atuais e criar condições para a
retomada do desenvolvimento, criação de empregos e distribuição de
renda.”
Apesar do desmentido, Lula age para mudar os rumos do
governo Dilma, que, no seu diagnóstico, carece com urgência de uma
agenda positiva. Aos amigos, ele afirma que a reforma ministerial foi
importante para atrair o PMDB, soldar a base aliada, barrar pedidos de
impeachment e recuperar a estabilidade na economia. Avalia, no entanto,
que só isso não basta e diz ser preciso dar “o próximo passo” para
retomar o crescimento.
Ajuste. É nesse cenário
que se encaixaria a troca de Levy e um afrouxamento do ajuste, com uma
política de estímulo ao consumo e abertura de linhas de crédito pelo
BNDES. Para que o governo saia do vermelho, Lula defende a volta da
CPMF, o imposto do cheque que o Senado derrotou em 2007, e promete
trabalhar por sua aprovação.
Em público, porém, a estratégia do
ex-presidente, do PT e do Planalto é repetir que as mudanças no primeiro
escalão não foram feitas para evitar o afastamento de Dilma pelo
Congresso, mas, sim, para pacificar a política e superar a crise
econômica.
“Essa defesa que estamos fazendo do governo da
presidenta Dilma tem de vir junto com um gesto de mudança da política
econômica”, insistiu o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). “O que está
havendo é um desajuste, porque não há ajuste possível com essa taxa de
juros na estratosfera.”
Um documento da Fundação Perseu Abramo,
ligada ao PT, também prega uma guinada na política econômica. Segundo o
texto, que contou com o aval de Lula, o governo Dilma abandonou o
programa defendido na campanha do ano passado, submeteu-se à lógica
“liberal”
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