O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, disse hoje (8) que o impeachment não pode ser tratado como ferramenta de disputa política e que a base aliada tem de estar atenta à questão no Congresso.
"É muito estranho que alguém coloque como objetivo de sua posição política chegar ao impeachment.
As pessoas estão catando coisas para dar consistência artificial a um
processo como esse", afirmou, durante entrevista após a primeira reunião
da presidenta Dilma Rousseff com seus ministros depois da reforma
administrativa. Wagner criticou o fato de o afastamento da presidenta
ter se tornado "conversa de todo dia".
"Virou conversa de todo
dia. Devia ser consequência de um crime de responsabilidade objetivo",
destacou Wagner, que mostrou preocupação com os pedidos de afastamento
de Dilma entregues à Câmara dos Deputados.
"O presidente da Câmara
tem arquivado alguns deles e vamos ver como funciona nas semanas
subsequentes. Todos sabem do cronograma previsto pela oposição. Então,
acho que a base tem de estar bastante atenta à movimentação", disse o
ministro.
Sobre a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU),
que na quarta-feira (7) rejeitou as contas de 2014 da presidenta, o
ministro informou não considerá-la uma derrota do governo.
"No
julgamento técnico-político do Congresso Nacional é que poderemos dizer
que foi uma grande vitória ou uma grande derrota." Ele considerou ainda
que a recomendação pela rejeição das contas não constitui um elemento
concreto que embase um pedido de afastamento de Dilma Rousseff.
"Não
consigo olhar como elemento de prova um parecer que sequer foi votado
[no Congresso]." Jaques Wagner acrescentou que fatos ocorridos antes do
governo atual não podem servir de base para um processo de impeachment.
"Está
claro para qualquer constitucionalista que fatos ocorridos antes de
janeiro de 2015 não podem ser reivindicados como base. Creio que o
Congresso respeitará o texto constitucional, a despeito de uma certa
excitação que existe. Quero manifestar posição pessoal da minha
preocupação, do ponto de vista da democracia brasileira, que uma
ferramenta tão nobre seja ferramenta de disputa."
De acordo com o
ministro, Dilma encarou as dificuldades ao longo da semana com "postura
tranquila". Além da recomendação do TCU pela rejeição das contas, o
governo não conseguiu quórum para apreciação dos vetos presidenciais em
duas sessões consecutivas do Congresso Nacional e o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) reabriu ação para cassação dos mandatos de Dilma e do
vice-presidente, Michel Temer. "Eu diria que a presidenta, como
guerreira, funciona bem nesses momentos de dificuldade."
Segundo
Jaques Wagner, Dilma preferia que a análise do TCU culminasse de outra
forma, mas respeita a decisão do tribunal e considera o episódio página
virada. "A batalha definitiva será na CMO [Comissão Mista de Orçamento] e
no Congresso."
O ministro também defendeu o pedido de suspeição
do relator do processo no TCU, Augusto Nardes. Para o governo, Nardes
deveria ter sido afastado do processo, porque teria manifestado sua
opinião fora dos autos. "A entrada da suspeição não pode ser encarada
como afronta a qualquer tribunal. O próprio TCU, em função de nossa
demanda, ajustou alguns procedimentos", concluiu.
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