BRASÍLIA - O ministro do
Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes, relator do processo
que julgará as contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff, disse que a
decisão do governo de pedir seu afastamento do caso tem, por objetivo,
cercear o direito de liberdade da corte de contas em deliberar sobre o
assunto.
Ao ‘Estado’, Nardes reiterou que não liberou seu
voto para ninguém, a não ser para os ministros da corte, conforme prevê o
regimento do tribunal. “Estou tranquilo, não divulguei nada. Se houve
conhecimento prévio pela imprensa, não foi por mim. Além disso, essa
matéria [sobre as pedaladas fiscais] já foi julgada pelo ministro José
Múcio, e veio a público o seu voto” comentou Nardes. “Esse é um trabalho
coletivo, não é um trabalho só do relator. Essa matéria está sendo
discutida há 90 dias.”
Perguntado sobre como recebeu a notícia de ser alvo do
processo movido pela Advocacia-Geral da União (AGU), Augusto Nardes
disse que o governo, em vez de se explicar e responder aos
questionamentos da corte, passa a atacá-lo. “Isso é tentar cercear a
liberdade e cercear o tribunal. É tentar evitar de se discutir uma
matéria que toda a sociedade tem que saber. É um cerceamento de
liberdade”, disse o ministro.
O relator lembrou ainda que,
quando era presidente do TCU, chegou a receber um pedido de suspeição
contra o então ministro José Jorge, que relatava um processo sobre a
polêmica refinaria de Pasadena, comprada pela Petrobrás. “Tentaram
retirar José Jorge da relatoria e não conseguiram.”
Segundo
Nardes, mesmo com a movimentação do governo, nada muda no calendário da
votação das contas, que está marcada para a próxima quarta-feira. “Não
vai ser adiada, vamos votar na próxima sessão, porque quem decide isso é
o tribunal. Quem decide sobre a suspeição é o tribunal”, comentou.
Augusto Nardes divulgou nota oficial sobre o assunto. Leia a íntegra:
O
ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), repudia
as declarações do Advogado-Geral da União divulgadas pela imprensa
acerca de sua atuação na relatoria do processo de apreciação das Contas
de Governo do exercício de 2014. Esclarece, em relação à sessão prevista
para 7 de outubro, que não antecipou sua opinião final acerca da
apreciação dessas contas. Apenas disponibilizou, na quinta-feira
passada, minuta de relatório e do parecer prévio aos demais ministros,
uma vez que o Regimento Interno do TCU exige que a distribuição dessas
peças aos seus pares se faça em até cinco dias antes da data da
sessão. Eventuais declarações coletadas junto à imprensa estão
relacionadas a acórdãos públicos já prolatados pelo TCU, a exemplo do
Acórdão 825/2015 - TCU-Plenário, que tratou de adiantamentos realizados
pelos bancos oficiais para cobertura de despesas da União com programas
sociais, e do Acórdão 1.464/2015 - TCU-Plenário, sobre a análise
preliminar das contas de governo, no qual o tribunal comunicou ao
Congresso Nacional que as referidas contas não estavam em condições de
serem apreciadas naquele momento, em virtude dos indícios de
irregularidades constatados que demandavam a apresentação de
contrarrazões por parte da Presidente da República.
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