A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada nesta terça-feira, que o empresário Marcelo Odebrecht
fez “delaçãozinha” após sofrer coação. “Tenho a impressão de que o
senhor Marcelo Odebrecht sofreu muitos tipos de pressão. Muitos tipos de
pressão. Por isso, não venham com delaçãozinha de uma pessoa que foi
submetida a uma variante de tortura, minha filha. Ou melhor, de coação”,
afirmou a petista.
Ao ser questionada sobre a conversa que o
herdeiro da empreiteira diz que teve com ela no México afirmando que sua
campanha poderia ter sido contaminada por pagamentos feitos ao
marqueteiro João Santana no exterior, Dilma diz que foi ao banheiro no
aeroporto e quando voltou encontrou Odebrecht a esperando. “Ele começou a
falar comigo, do jeito Marcelo, tudo meio embrulhado. E eu numa pressa
louca, olhando pra ele. Não entendi patavina do que ele falava. Niente
(“nada”, em italiano). Ele diz que me contou que poderia ocorrer
contaminação. Mas eu não tinha conta no exterior. Se o João tinha, o que
eu tenho com o João? Por que eu teria que saber?”
Às vésperas do julgamento noTribunal Superior Eleitoral (TSE)
que pode cassar a chapa eleita em 2014 e torná-la inelegível, Dilma
afirmou que Marcelo Odebrecht fez delação de acordo “com seus
interesses”. “Portanto, tudo o que ele diz pode servir de indício para
investigar, mas não para condenar. O STF nem abriu investigação ainda. É
estarrecedor que um procurador use como prova o que não é prova”,
afirmou. Para Dilma, se a chapa eleita for cassada “Mais uma vez vão
cometer uma injustiça e com base em um depoimento (de Marcelo Odebrecht)
absolutamente sofrível.”
Sobre a possibilidade de divisão da
chapa, a petista afirma: “E como o Temer não tem nada a ver com isso? Na
campanha, ele arrecadou 20 milhões de reais de um total de 350 milhões
de reais. Nós pagamos integralmente todas as despesas dele. Jatinhos,
salários de assessores, advogados, hotéis, material gráfico, inserções
na TV. Separar essa conta só tem uma explicação: dar tempo para ele
entregar o resto do serviço que ficou de entregar: reforma da
Previdência e desregulamentação econômica brutal.”
Ainda
em seu depoimento ao TSE, o empresário também afirmou que o ex-ministro
Paulo Bernardo – titular do Planejamento e das Comunicações nas gestões
de Luiz Inácio Lula da Silva
e Dilma Rousseff, respectivamente – pediu e recebeu uma “contrapartida”
de 64 milhões de reais, em 2009, por uma linha de crédito obtida pelo
grupo no governo federal. As declarações constam do depoimento prestado
pelo empreiteiro no dia 1.º de março, na ação que pede a cassação por
suposto abuso de poder político e econômico da chapa Dilma-Temer.
Odebrecht
se referiu à “contrapartida específica” como um “dinheiro que pode ter
vindo de maneira ilícita”. O empreiteiro afirmou que a Odebrecht colocou
150 milhões de reais na campanha de Dilma em 2014, a maior parte paga
em forma de caixa 2. O valor ficava numa espécie de conta corrente controlada por ele e negociada diretamente com os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega.
Segundo
o empreiteiro, houve duas “contrapartidas específicas” da empreiteira
ao PT desde 2009: uma de 64 milhões de reais relacionada à linha de
crédito e outra de 50 milhões de reais condicionada à votação da Medida
Provisória do Refis, encaminhada ao Congresso, e que beneficiou a
Braskem, petroquímica controlada pela Odebrecht.
Conforme o
empreiteiro, os 50 milhões de reais eram uma cota de Mantega e “ficaram
intocados” pois o ex-ministro “acabou não participando da eleição de
2010”. De acordo com a versão, o montante foi usado como crédito para a
eleição de 2014. Já em relação aos 64 milhões de reais, “foram gastos
antes das eleições de 2014, quase todo”.
“O pedido do Refis da
Crise veio do Guido e o pedido da linha de crédito veio do Paulo
Bernardo”, disse Odebrecht ao ser questionado pelo ministro Herman Benjamin, relator da ação contra a chapa Dilma-Temer,
sobre quem eram os emissários dos valores para o PT. Em nota, a
advogada Verônica Sterman, que defende Paulo Bernardo, diz que seu
cliente “nega veementemente qualquer contato com Marcelo Odebrecht nesse
sentido e recebe tal informação com surpresa e indignação”.
(Com Estadão Conteúdo)
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