O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Weverton Rocha (MA), autor da
emenda que desfigurou as chamadas dez medidas de combate à corrupção, é
investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) em ao menos dois
inquéritos por crimes contra a administração pública. A emenda
apresentada pelo pedetista incorporou ao texto a previsão de crime de
responsabilidade de juízes e promotores, em clara resposta à operação
Lava-jato e às medidas que endurecem o o combate à corrupção.
De
acordo com a Transparência Brasil, organização não-governamental que
analisa a conduta e a atuação de parlamentares, Weverton Rocha é
investigado por peculato e corrupção, por suposto envolvimento com o
desvio de verbas do Ministério do Trabalho, por meio a contratação
irregular de ONGs. Ele também é investigado por suposto crime contra a
Lei de Licitação à época em que comandava a Secretaria de Esporte do
Maranhão. Segundo a denúncia, ele teria favorecido uma empresa para a
reforma de um ginásio, dispensando a licitação de forma indevida.
Weverton
ainda é réu em ações civis de improbidade administrativa, movidas pelo
Ministério Público Federal e pelo MP do Maranhão. Ele responde a três
ações civis públicas, uma delas por supostamente ter se beneficiado do
uso de um jatinho custeado por entidade social conveniada com o
Ministério do Trabalho, à época em que atuava como secretário da pasta.
ALTERAÇÕES POLÊMICAS
A
emenda, apresentada pelo parlamentar e referendada pela maioria do
plenário da Câmara, em votação no meio da madrugada desta quarta-feira,
prevê que juízes, promotores e procuradores sejam responsabilizados por
"atuação político partidária", por exemplo. No caso dos magistrados, o
texto fala na possibilidade de processar o magistrado se ele opinar
sobre processo em julgamento. No caso do MP, a proposta estipula que
haverá crime de responsabilidade em procedimento “sem indícios mínimos
da prática de algum delito” e a manifestação de opinião, por qualquer
meio de comunicação, sobre processo pendente de atuação do Ministério
Público ou juízo depreciativo sobre manifestações funcionais.
A
emenda de Weverton também muda a Lei de Improbidade para prever como
crime a proposição de ação contra agente público ou terceiro
beneficiário com ato classificado como “temerário”. A pena é aumentada
de detenção de seis a dez meses para reclusão de seis meses a dois anos.
A emenda prevê ainda que, nas ações civis públicas “propostas
temerariamente por comprovada má-fé, com finalidade de promoção pessoal
ou por perseguição política”, a associação autora da ação ou o membro do
Ministério Público será condenado ao pagamento de custas, emolumentos,
despesas processuais, honorários periciais e advocatícios.
Na
visão dos investigadores envolvidos na operação Lava-Jato, e até mesmo
do juiz Sérgio Moro, que relata os processos da operação, na Justiça
Federal do Paraná, todas as medidas só têm um propósito: inibir a
atuação da Justiça no combate à corrupção. Antes mesmo da votação, assim
que a emenda foi tornada pública, os procuradores emitiram nota.
Segundo
os procuradores, a figura do crime de responsabilidade abre a
possibilidade para que investigados processem criminalmente os
investigadores, gerando “intimidação” e “retaliação”. A força-tarefa
afirmou que deputados e senadores não estão sujeitos a crime de
responsabilidade e que a proposta, destinada a integrantes da Justiça e
do MP, atenta “contra a independência do exercício da atividade
ministerial e judicial”. Segundo os procuradores, dizer que juízes e
procuradores formam uma “casta privilegiada” ou “intocável” tem o
objetivo apenas de manipular a opinião pública, pois eles se sujeitam à
responsabilidade civil, criminal, de improbidade administrativa e
disciplinar.
Em nota, o gabinete do deputado Weverton Rocha
afirmou que emenda não é uma retaliação à Lava-Jato porque nem ele ou
nenhum outro membro de seu partido (PDT) é investigado na operação.
Em
relação às investigações contra ele, o gabinete do parlamentar disse
que “o que existem são três inquéritos para apuração de dados, que não
se transformaram em denúncia, razão pela qual não é possível dizer que o
deputado é réu”. Weverton acrescentou ainda na nota que “demonstrará,
como sempre fez, que não houve atos ilícitos, nem quando era secretário
estadual, nem quando era assessor do Ministério do Trabalho”.
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