Ainda que a
presidente Dilma Rousseff consiga evitar a abertura de um processo de
impeachment, terá uma governabilidade frágil para continuar seu mandato
nos próximos três anos, avaliou o presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Em
café da manhã com jornalistas nesta terça-feira, o presidente da
Câmara, que rompeu com o governo em julho, reconheceu que é “muito mais
fácil” obter os 171 votos para barrar a abertura de um processo de
impedimento do que os partidários do impeachment reunirem os 342 votos,
equivalentes a dois terços, necessários para continuá-lo.
“Mesmo
que o governo consiga impedir, vai ser por uma margem muito estreita,
vai mostrar que o governo não tem maioria”, disse Cunha. “São duas
perguntas diferentes: se o governo tem condições de amealhar um terço
para impedir um impeachment, pode; se o governo tem condições de ter
governabilidade com um terço, é difícil.”
“O fato de o governo
impedir (a abertura do processo), se porventura impedir, não significa
que o governo adquiriu governabilidade para os próximos três anos”,
afirmou.
Cunha disse acreditar
que a definição sobre a abertura do processo de impeachment contra Dilma
deve ocorrer na Câmara até o fim de março. Ele aproveitou para garantir
que dará continuidade ao trâmite do pedido assim que o Supremo Tribunal
Federal (STF) se pronunciar sobre recursos que o peemedebista pretende
apresentar sobre os ritos do impeachment.
“Acho
que esse processo deve acabar até o fim de março, essa é a minha
opinião”, disse Cunha. “Digo, concluir o processo na Câmara.”
O
presidente reafirmou que deve apresentar em 1º de fevereiro recursos à
decisão do Supremo que anulou a eleição por voto secreto de uma chapa
avulsa para compor comissão mista na Câmara que analisará a abertura do
processo.
Pouco antes do
recesso do Judiciário, o Supremo decidiu anular a eleição da chapa
avulsa por voto secreto para a comissão especial da Câmara e reforçou a
interpretação de que a Constituição permite ao Senado avaliar se
instaura ou não o processo de impeachment, mesmo que a Câmara já o tenha
autorizado.
Segundo a
interpretação do Supremo, o Senado poderá arquivar o processo --e evitar
o afastamento temporário de Dilma-- por maioria simples. Mas Cunha
considera “pouco provável” que o Senado, por maioria simples, contrarie
decisão de dois terços dos deputados
.
PEDALADAS
O
deputado minimizou ainda que o processo de impeachment possa ser
fragilizado caso a Comissão Mista de Orçamento (CMO) aprove as contas do
governo federal de 2014, em direção oposta ao Tribunal de Contas da
União (TCU) que emitiu parecer pela rejeição das contas.
Dentre
as irregularidades apontadas pelo tribunal estão manobras envolvendo
atrasos de repasses a bancos públicos, as chamadas pedaladas fiscais. O
relator do caso na CMO, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), já emitiu parecer
pela aprovação com ressalvas das contas do ano passado. Depois da CMO
esse parecer ainda precisa ser votado pelo plenário do Congresso.
Cunha
argumentou que aceitou o pedido de impeachment contra a presidente com
base em decretos de liberação de recursos neste ano que não teriam sido
submetidos à avaliação do Congresso Nacional, e não na reprovação das
contas pelo TCU por conta das pedaladas constatadas em 2014.
“Nós
não aceitamos a tese que você retroaja em relação a mandato anterior...
o ato irregular foi cometido em 2015, os decretos”, explicou.
"PEÇA TEATRAL"
O
presidente da Câmara aproveitou ainda para ironizar pedido para o seu
afastamento elaborado pela Procuradoria-Geral da República (PGR),
segundo o qual, Cunha estaria usando seu mandato para interesse próprio e
fins ilícitos.
Para Cunha, o
documento pedindo que ele seja impedido de exercer seu mandato e a
presidência da Câmara é uma “peça teatral”. Sobre a acusação de quebra
de decoro que enfrenta no Conselho de Ética da Câmara, Cunha disse que
se trata de um “processo de natureza política que tem que ser
enfrentado”.
O deputado foi
denunciado pela PGR por suspeita de ter recebido 5 milhões de dólares
em propina no esquema de corrupção da Petrobras. Também é alvo de
inquérito que apura a existência de contas bancárias no exterior no nome
dele e de familiares.
A
possível existência das contas motivou a abertura do processo no
Conselho de Ética, sob o argumento de que teria mentido em depoimento da
CPI da Petrobras, quando negou ter contas bancárias além da declarada
em seu Imposto de Renda.
Questionado
sobre a recente troca de comando do Ministério da Fazenda, o presidente
da Câmara não foi otimista. “Não é porque o ministro Nelson Barbosa
possa ser pior ou melhor do que o Joaquim Levy. A visão que o mercado
tem é que o Barbosa não representa uma política econômica, ele
representa a presidente Dilma na condução da economia.”
Por Maria Carolina Marcello
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