BRASÍLIA - Já chega a dez o número de executivos e funcionários da
empreiteira Odebrecht chamados a prestar esclarecimentos na ação que
poderá levar à cassação do mandato do presidente Michel Temer no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A última testemunha a ter seu
depoimento marcado pelo ministro Herman Benjamin, relator do caso no
TSE, é Fernando Migliaccio. Ele vai depor na tarde de sexta-feira.
Nas
investigações da Lava-Jato, Migliaccio é apontado como responsável por
offshores e contas que foram usadas pela Odebrecht para pagar propina no
exterior. Ele teria feito repasses aos publicitário João Santana e para
a mulher dele, Mônica Moura. Santana foi o marqueteiro da campanha da
chapa vencedora da eleição de 2014, que teve Dilma Rousseff candidata a
presidente e Michel Temer como vice.
Como a ex-presidente sofreu o
impeachment no ano passado, o julgamento no TSE poderá levar à saída de
Temer da Presidência. Ironicamente, o PSDB, principal aliado do
presidente hoje, foi quem apresentou quatro ações questionando a
legitimidade da chapa.
Na quarta-feira, o TSE já tinha marcado
mais dois depoimentos: José de Carvalho Filho, que já trabalhou na área
de relações institucionais da Odebrecht e teria participado das
negociações de repasses de recursos a diversos políticos; e Maria Lúcia
Tavares, que trabalhava no Setor de Operações Estruturadas, o chamado
"departamento da propina" da empreiteira. Os dois também serão ouvidos
na sexta-feira.
Antes, foram marcados três depoimentos de
executivos ligados à Odebrecht: Marcelo Odebrecht, Cláudio Melo Filho e
Alexandrino de Salles Ramos. Posteriormente, foram chamados mais quatro:
Benedicto Barbosa da Silva Junior, Fernando Reis, Hilberto Mascarenhas e
Luiz Eduardo da Rocha Soares. Todos os sete já prestaram depoimento.
Também
na sexta-feira haverá uma acareação entre quatro desses executivos:
Marcelo Odebrecht, Cláudio Melo Filho, Hilberto Mascarenhas e Benedicto
Barbosa da Silva Junior. O objetivo é que eles possam esclarecer pontos
divergentes sobre a atuação de Temer na arrecadação de recursos para a
campanha de 2014.
O relator Herman Benjamin quer julgar o caso até
abril, antes de mudanças na composição do TSE. Mas seus colegas acham
difícil concluir até lá. O próprio ministro fica no tribunal até
outubro, mas poderá ser reconduzido ao cargo. Uma possibilidade estudada
por aliados de Temer é estender o processo até 2018, quando termina seu
mandato. É possível que, numa eventual condenação, Temer perca apenas
alguns meses de mandato.
Como estratégia de defesa, Temer tenta
separar a análise das contas, alegando que não tem responsabilidade
sobre eventuais ilegalidades cometidas pela titular da chapa. Ele também
poderá pedir a nulidade dos depoimentos de executivos e ex-executivos
da Odebrehct, caso sejam prejudiciais à sua defesa.
Caso as contas
não sejam separadas e haja condenação, Dilma fica inelegível, e Temer
perde o mandato, mas poderá continuar disputando eleições. Isso porque o
TSE costuma tornar inelegível apenas o titular da chapa. Caso Temer
seja cassado, haverá uma eleição indireta no Congresso Nacional para
ocupar o cargo até o fim do mandato, que acaba em 1º de janeiro de 2019.
Se as contas forem separadas, Dilma pode ficar inelegível e Temer
continuar no cargo de presidente da República.
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