SÃO PAULO. O juiz Sérgio Moro disse, em entrevista publicada nesta
sexta-feira pelo jornal “Valor Econômico”, que “realmente” acha que “há
risco de retrocesso” quanto à herança deixada pela Operação Lava-Jato.
Moro se refere à tentativa de anistia geral a crimes ligados a doações
eleitorais, encampada pela Câmara dos Deputados no fim do ano passado.
Sobre
a Lava-Jato, que completa três anos na semana que vem, Moro disse que
“mais do que uma investigação criminal, transformou-se em um processo de
amadurecimento institucional, no qual há crimes praticados por pessoas
poderosas e em que se mudou de um regime de impunidade para outro de
responsabilidade (pela prática de atos ilícitos)”.
Para o juiz,
“algo mudou” no país após o processo do mensalão, mas Moro salienta que
“é difícil prever o futuro. E se isso vai passar a ser uma regra (o
regime de responsabilidade) ou se foi uma exceção”.
Moro não quis detalhar o que ele acha que mudou no país, dizendo:
“É,
porque eu realmente acho que há risco de retrocesso. Fatos como aquela
tentativa de anistia”, segundo ele, não apenas à anistia ao caixa dois,
mas sim à tentativa de anistia geral que a Câmara dos Deputados
encampou.
“Se fosse ao caixa dois seria algo menos preocupante.
Digo a tentativa de anistia geral. E ainda tem uma incógnita, porque há
muitas investigações em andamento. Teremos de ver qual será o destino
delas”.
O juiz não quis comentar a indicação do ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, para a relatoria da
Lava-Jato no Supremo.
Sobre o legado da Lava-Jato, o juiz afirmou
que o “trabalho que foi feito até agora é difícil de ser perdido”,
graças a todas as condenações e dinheiro público recuperado. “Acho que a
grande questão é até onde vai, entendeu? Para onde se pode ir”,
salientou o juiz, dizendo achar importante o desdobramento da operação
para outros estados.
Ele disse acreditar que o “próprio
crescimento institucional” possibilitou a Lava-Jato chegar onde chegou e
disse não ter ideia de quando pode terminar.
“Normalmente o tempo
de duração de uma ação penal é de seis meses a um ano, aproximadamente. Até o julgamento. Mas tem investigações em andamento, e a conclusão
delas é mais imprevisível”.
Moro finaliza a entrevista comentando acusações de que houve excessos na Lava-Jato.
“Não
vejo com clareza excessos. Pela dimensão dos crimes em investigação e
pelo caráter sistemático deles, não vejo algo que possa ser descrito
como excesso”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário