Brasília - Uma das principais bandeiras dos protestos de rua
marcados para o dia 26 deste mês, o fim do foro privilegiado está
emperrado no Congresso Nacional. Lideranças da Câmara e do Senado não se
mostram dispostas a acelerar a tramitação das Propostas de Emendas à
Constituição (PECs) que extinguem o direito a que autoridades sejam
julgadas por tribunais.
Mesmo em meio às discussões sobre
restrição da prerrogativa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e na
iminência da divulgação das delações da Odebrecht que devem implicar
dezenas de deputados e senadores, os parlamentares temem que, sem foro,
possam ficar sujeitos a investigações conduzidas por magistrados de
primeira instância, como o juiz Sérgio Moro.
A reação do Congresso
a uma eventual mudança na prerrogativa pelo STF foi escancarada na
semana passada quando o líder do governo no Congresso e presidente do
PMDB, senador Romero Jucá (RR), disse que não pode haver uma “suruba
selecionada”. A principal justificativa pública de parlamentares ouvidos
pelo Estado para não levar adiante a proposta é que, sem qualquer espécie de modulação da prerrogativa, a iniciativa não passará.
As
PECs em tramitações mais avançadas nas Casas querem acabar com o foro. A
maioria dos congressistas, porém, defende que determinadas autoridades,
como presidentes de Poderes, ou medidas de força, como o cumprimento de
pedidos de prisão ou de busca e apreensão, sejam investigados ou
decretados por tribunais.
Há parlamentares que admitem abertamente
que será difícil a matéria avançar. “No momento de confusão, nunca sai
uma legislação boa”, disse o líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL),
que, pessoalmente, se diz a favor de restringir o foro.
Na Câmara,
o provável presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ),
Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), adiantou que tentará pautar uma do pacote de
12 PECs sobre o tema – a mais antiga delas de 2005. “Se houver um anseio
popular e há manifestações do STF de decidir sobre o assunto, não tem
como o Congresso não discutir.”
Essa iniciativa, contudo, não tem
ampla simpatia dos deputados. Para tentar viabilizar sua aprovação, o
autor da última das propostas que trata do assunto, Celso Maldaner
(PMDB-SC), admite mudar seu texto sobre fim do foro irrestrito para
deixar apenas 15 autoridades no STF: os ministros da Corte e os
presidentes da República, da Câmara e do Senado, além do
procurador-geral da República.
Judiciário. O líder do PSDB na
Câmara, Ricardo Trípoli (SP), cobra o envolvimento dos magistrados para
encontrar o melhor formato para o foro. “Quem julga é o Judiciário, nós
fabricamos as leis. É razoável discutir para que haja celeridade nos
julgamentos”, disse o tucano.
Se passar na CCJ, a proposta terá de
ir a uma comissão especial e, posteriormente, ao plenário da Casa. O
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que, se a PEC
avançar, vai colocá-la para votar. “Não há problema em pautar nenhuma
matéria. Essa discussão pode acontecer a qualquer momento”, disse.
Aprovada em dois turnos com ao menos 308 dos 513 votos, a matéria vai
para o Senado.
Na outra Casa, o senador Randolfe Rodrigues
(Rede-AP) tem tentado, sem grande sucesso até o momento, buscar apoio
dos líderes para colocar em votação no plenário uma PEC que acaba
totalmente com o foro e foi aprovada pela CCJ em novembro passado. Ele
precisa do apoio de pelo menos 41 dos 81 senadores para garantir a
inclusão da PEC na pauta. Por ora, ele só conseguiu o apoio de nove. O
presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), tem dito em conversas
que esse assunto, por ora, está fora da agenda.
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