sábado, 17 de dezembro de 2016

Moro manda soltar ex-tesoureiro do PT e cobra R$ 1 mi em fiança




Ex-tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, presta depoimento © image/jpeg Ex-tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, presta depoimento 
 
Após admitir ter recebido “recursos informais” no caixa do PT e em sua campanha a deputado federal em 2010, o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira deixará a cadeia na Operação Lava Jato. O juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato em Curitiba, determinou nesta sexta-feira que Ferreira, réu em uma ação penal derivada da 31ª fase da operação, batizada de Abismo, seja solto mediante fiança de 1 milhão de reais. O ex-tesoureiro petista é acusado de ter recebido propina referente ao contrato para a construção do novo Centro de Pesquisa Petrobras (Cenpes), no Rio de Janeiro.

Embora o Ministério Público Federal tenha se posicionado favoravelmente à manutenção da prisão preventiva do petista, Moro lembra que a fase de instrução do processo, ou seja, a oitiva de acusados e testemunhas, já terminou, o que “diminui riscos às provas e no presente caso, como ocorre em alguns outros casos, não há uma indicação de que o acusado oferece um risco às próprias fontes de provas, como as testemunhas ou colaboradores”.

“Sem pretender minorar eventual responsabilidade” de Paulo Ferreira, Moro ressalta que as investigações da Lava Jato concluíram que “as propinas acertadas em contratos da Petrobrás eram recolhidas principalmente por João Vaccari Neto, sendo depois destinadas a agentes do Partido dos Trabalhadores” e que Ferreira “não figura, aparentemente, entre os principais beneficiários dessas mesmas propinas”.

Para Sergio Moro “o papel aparentemente mais subsidiário dele no esquema criminoso autoriza, nesse momento, a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares alternativas”.

Conforme as condições impostas por Sergio Moro, o ex-tesoureiro do PT só será solto depois que depositar a fiança de 1 milhão de reais e entregar seus passaportes. Paulo Ferreira também não poderá mudar de residência ou se ausentar dela por mais de 20 dias sem autorização de Moro e está proibido de “se aproximar ou de contatar, direta ou indiretamente, outros acusados ou testemunhas deste feito e seus familiares, inclusive e principalmente Alexandre Correa de Oliveira Romano”.

‘Problema da cultura política nacional’

Em depoimento a Sergio Moro na última quarta-feira, Paulo Ferreira assumiu que o PT e sua campanha a deputado federal em 2010 receberam doações “informais”, ou seja, via caixa dois.

“É um problema da cultura política nacional, doutor Moro. Não estou aqui para mentir para ninguém. Estou aqui para ajustar alguma divida que eu tenha. Negar informalidades nos processos eleitorais brasileiros, de todos os partidos, é negar o óbvio”, disse Ferreira ao magistrado.

De acordo com o Ministério Público Federal, o advogado e ex-vereador petista Alexandre Romano, o Chambinho, fechou contratos de advocacia superfaturados com empreiteiras do consórcio do novo Cenpes, alguns deles fictícios, e repassou os valores a Paulo Ferreira.

Em sua delação premiada, Chambinho reconhece que o dinheiro destinado ao petista era oriundo dos contratos celebrados pelas empresas Construbase, Schahin e Ferreira Guedes com a Petrobras. Entre os recebedores de propinas destinadas ao ex-tesoureiro do PT, o delator enumera a madrinha de bateria e o cantor da escola de samba Estado Maior da Restinga, de Porto Alegre, apadrinhada por Paulo Ferreira, e os dois filhos dele, Ana Paula e Jonas.

A Moro, no entanto, Ferreira disse que o advogado atuou como “captador de recursos” de sua campanha e que os pagamentos foram meros casos de caixa-dois.

“No Brasil, o exercício da política, tomara que mude, foi sempre financiado [informalmente], o senhor está vendo isso nas apurações, e financiado por grandes volumes de dinheiro, que ou foram para campanhas ou foram para beneficio pessoal das pessoas. Estou reconhecendo aqui que foram pagamentos ilícitos para fim de campanha eleitoral”, afirmou Paulo Ferreira.

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