Quando sofreu o processo de impeachment no Congresso e deixou o
poder, a ex-presidente Dilma Rousseff perdeu o direito ao foro
privilegiado – ou seja, já não poderia mais ser julgada em Brasília,
pelo Supremo Tribunal Federal. Com isso, a Procuradoria-Geral da
República (PGR) pediu ao ministro Teori Zavascki, relator dos processos
do petrolão, para enviar o inquérito envolvendo a petista, suspeita de
obstruir a Operação Lava-Jato, para o juiz Sergio Moro. Parecia lógico.
Mas não foi o que aconteceu. Para o ministro Teori Zavascki, a
investigação sobre Dilma tem que continuar no Supremo.
“Os fatos
em destaque têm como premissa de capitulação o delito de embaraçamento à
investigação de crime envolvendo organização criminosa que atuava
diretamente no âmbito das diretorias da Petrobras”, escreveu o
procurador-geral Rodrigo Janot. Para ele, o caso de Dilma deveria ser
submetido “ao conhecimento da 13ª Vara da Justiça Federal no Paraná por
encontrarem-se imbricados no complexo investigativo denominado Operação
Lava Jato”, diz o documento, obtido por VEJA. Após avaliar os argumentos
de Janot, o ministro Teori Zavascki, num despacho de nove páginas,
indeferiu o pedido.
De acordo com o entendimento do relator da
Lava-Jato no Supremo, o desmembramento da investigação envolvendo Dilma
poderia “colidir com o objetivo da persecução penal”. “Não se vislumbra,
no presente momento, a possibilidade de desmembramento da investigação,
pois a análise dos fatos por meio de investigação segmentada, como
pretende o órgão ministerial, dificultaria sobremaneira a colheita e
análise de provas, bem como afastaria, por ora, a coesão necessária para
corroborar a tese da acusação”, escreveu Teori.
De acordo com as
investigações, Dilma é suspeita de tentar frear a Lava-Jato de três
maneiras. A primeira delas envolveu a nomeação do ministro Marcelo
Navarro Ribeiro Dantas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) com a
suposta intenção de conceder a liberdade para empreiteiros presos em
Curitiba. A segunda está relacionada com uma investida feita pelo
ex-ministro Aloizio Mercadante, sob o comando da petista, para tentar
evitar que Delcídio colocasse o boca no trombone. Já a terceira tem a
ver com uma manobra para tornar Lula chefe da Casa Civil alguns dias
depois de o ex-presidente ter sido conduzido coercitivamente pela
Polícia Federal.
Essas três situações, segundo Teori, estão
conectadas entre si, pois “busca-se evidenciar que havia, dentro do
governo da então presidente Dilma Rousseff, movimento destinado a
aviltar as investigações de infrações que envolviam organização
criminosa”. Segundo o ministro do Supremo, o fatiamento dos fatos
impossibilitaria “o exame coeso das condutas, supostamente executadas
por agentes interligados”. Além de Dilma, também são investigados no
mesmo inquérito: Lula, Marcelo Navarro, Delcídio do Amaral, Aloizio
Mercadante, o ex-ministro José Eduardo Cardozo e o ministro do STJ
Francisco Falcão.
Em agosto, a pedido da PGR, Teori determinou que
um dos dois casos envolvendo Lula fosse desmembrado da investigação
principal – e fosse enviado à Justiça Federal no Distrito Federal. O
ex-presidente é acusado por Delcidio do Amaral de ter articulado uma
reunião com o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) e o senador
Romero Jucá (PMDB-RR) no Instituto Lula, em São Paulo, para discutir
estratégias destinadas a frear a Lava-Jato.
Segundo a PGR, Lula
“tentou persuadir os congressistas, que estão entre as mais ascendentes
lideranças senatoriais, a criar, no Senado Federal, comissão de
acompanhamento da Operação Lava Jato, com a finalidade explícita de
miná-la por meio de discursos de deslegitimação e exercício pontual de
influência”. Apesar desse precedente, Teori entendeu que o caso de Dilma
é diferente.
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