Após quatro horas de debates no
plenário da Câmara dos Deputados, a comissão geral destinada a avaliar o
pacote de dez medidas de combate à corrupção apresentado pelo
Ministério Público Federal foi encerrada de uma forma inusitada: com um
apelo de um parlamentar citado na Operação Lava Jato feito para Deltan
Dallagnol, coordenador da força-tarefa que investiga o escândalo de
corrupção na Petrobras.
Último a se pronunciar, o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) subiu à tribuna para comentar o envolvimento de seu nome
na delação feita pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. De
acordo com o delator, Fortes obteve o pagamento de 500.000 reais em
propina pagos via doações eleitorais. A vantagem indevida, disse
Machado, foi recebida como uma forma de convencer o congressista, à
época presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, a parar de
impor dificuldades à proposta de aumento do limite para endividamento da
Transpetro.
"Eu estou aqui
nesta Casa há muitos anos, e o que eu sempre quis na vida foi ficar
imune a escândalos e aos escandalosos. Mas, semana passada, senhor
procurador, eu fui denunciado pelo réu confesso, que através de uma
delação premiada quer aliviar os crimes que cometeu", disse Fortes. "Eu
queria pedir ao Ministério Público que examinasse as atas das sessões da
Comissão de Infraestrutura que eu participei no Senado. Disputou-se
ali, senhor procurador, uma briga entre a Bahia e Pernambuco porque
queriam a construção de um estaleiro. Eu, como presidente, fiquei
imprensado", continuou.
O
deputado contou ainda ter recebido um telefonema de Dilma Rousseff, à
época ministra da Casa Civil, pedindo que ele "resolvesse a questão" e
prometendo que lhe enviaria uma "pessoa de confiança". À noite, Fortes
se encontrou com Erenice Guerra, também implicada na Lava Jato e na
Operação Zelotes.
"O assunto
se deu em 2006. Ele falou que deu [pagou] em 2010 e em 2014 ficou me
devendo. Uma coisa sem pé nem cabeça. Mas o raio de ação da calúnia é
dez vezes maior do que o desmentido. O apelo que quero fazer ao MP é que
me coloco à disposição do que for preciso: acareação, quebra de sigilo
telefônico... Eu acho importante", disse Heráclito Fortes. Diante do
tempo de fala já estourado, o deputado continuou com os microfones
cortados: "Eu quero, seu procurador, que me mostre um telefonema...".
Questionado
por jornalistas ao fim da sessão, Dallagnol afirmou que não pode
atender os apelos do deputado. "Talvez tenha havido um equívoco. Os
próximos passos da colaboração referente a Sérgio Machado acontecerão
perante o Supremo Tribunal Federal. Então não seria uma coisa
relacionada a mim especificamente", disse o procurador da Lava Jato.
O deputado Heráclito Fortes (PSB-PI)
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