Em setembro, a presidente Dilma Rousseff sancionou uma lei que vetava o voto impresso na urna eletrônica.
Era uma pena, pois isso pode ser bastante útil em suspeitas de fraude.
Felizmente, o Congresso Nacional decidiu derrubar o veto.
Para
derrubar um veto presidencial, é necessário que a Câmara e o Senado
tomem a mesma decisão nesse sentido. Foi o que aconteceu: nesta
quarta-feira (18), 368 deputados votaram a favor da derrubada (50
ficaram contra), e 56 senadores apoiaram a medida (5 ficaram contra).
COMO FUNCIONA
Como explicamos por aqui, o voto continuará a ser feito pela urna eletrônica, mas será impresso um recibo que fica em uma urna física lacrada.
Funciona
assim: você insere seu voto na urna eletrônica, e uma impressora ao
lado mostra em quem você votou. Se os dados não baterem, você avisa ao
mesário para que ele tome providências. Se tudo estiver OK, é só
confirmar e ir embora.
Você
não leva um comprovante para casa, nem mesmo tem acesso ao papel
impresso (o que evita compra de votos). A lei deixa isso claro: "a urna
imprimirá o registro de cada votação, que será depositado, de forma
automática e sem contato manual do eleitor, em local previamente
lacrado... será garantido o total sigilo do voto".
A
impressão de votos é importante para auditorias: a Justiça Eleitoral
pode comparar os votos da urna eletrônica e da urna física, em caso de
suspeita de fraude. É mais difícil corromper dois meios de votação –
impresso e eletrônico – do que um só.
O experimento de 2002
O
Congresso discute a inclusão do registro impresso há quase duas
décadas. Na verdade, o Brasil já testou a impressão de votos nas
eleições de 2002 com o equipamento acima. Na época, sob pressão do
Senado, o TSE implementou um teste em algumas seções eleitorais com
urnas que imprimem votos. Foram adquiridas mais de 70 mil impressoras.
No
entanto, o projeto não deu certo. O professor de ciência da computação
Pedro Antonio Dourado de Rezende, da Universidade de Brasília, explica:
...
o edital exigia um lacre de papel na greta por onde sai o papel que
passava pelo espaço em que o eleitor enxergava o voto impresso. Mas no
manual que foi preparado para as empresas... não se falava na retirada
do lacre. Então, quem percebeu que o lacre iria engastalhar papel,
tirou; quem seguiu as instruções ao pé da letra, deixou....
Além
disso, a propaganda feita não instruiu os eleitores a votarem na urna
com impressão de voto. Na urna normal, o eleitor vota em todos os
candidatos e aperta "confirma". Na urna com impressão, o eleitor precisa
confirmar o voto eletrônico e, depois de verificado o voto impresso,
confirmar novamente. Mas nenhuma propaganda dizia isso.
O
que o eleitor fazia? Ia para urna votar, confirmava uma única vez e ia
embora. E o que o mesário tinha que fazer? Esperar dois minutos para a
máquina dar timeout e cuspir o voto impresso do eleitor que não
confirmou duas vezes. Logo, ao invés de o eleitor levar um minuto para
votar, a votação levou em média três minutos. Isso gerou filas enormes
nas seções que tinham voto impresso.
Foto via TRE-RS
Críticas
Será
que desta vez vai dar certo? Como nota o Convergência Digital, a medida
só deve ser adotada a partir de 2018, pois falta menos de um ano para
as eleições municipais de 2016. Mesmo assim, o governo não gostou nem um
pouco disso.
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) diz que a
impressão de votos terá um impacto de R$ 1,8 bilhão, envolvendo a
aquisição de equipamentos, adaptação de sistemas, entre outros.
O
senador José Pimentel (PT-CE), líder do governo no Congresso, disse que
“nós não temos condições de investir R$ 1,8 bilhão em programação e nas
urnas para imprimir as cédulas”. E Humberto Costa, líder do PT no
Senado, afirmou que “esse projeto é inconstitucional, aliado ao custo
adicional que isso vai promover”.
Enquanto isso, a advogada Maria
Aparecida Cortiz diz ao Convergência Digital que “o voto impresso está
na Constituição, seria uma desfaçatez uma nova suspensão disso”. Ela faz
parte do Cmind (Conselho Multidisciplinar Independente), ONG que
defende maior transparência do governo.
O senador Aécio Neves
(PSDB-MG) também defendeu a emissão de recibo: “hoje, pesquisas mostram
que oito em cada 10 eleitores acham positivo que numa eventualidade,
determinada por juiz eleitoral, possa haver a conferência dos votos”.
O
PSDB obteve autorização do TSE para realizar uma auditoria no resultado
das eleições presidenciais do ano passado. O relatório final, divulgado
em outubro, diz que não houve fraude – mas que o sistema de voto
eletrônico “não permite a plena auditagem”. Por isso, o partido sugeriu
que o tribunal faça alterações no sistema de votação, incluindo adotar o
voto impresso.
Foto por Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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