Nomeado para o Ministério da Justiça neste domingo, o jurista Torquato Jardim disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que vai ouvir sugestão do presidente Michel Temer (PMDB) e avaliar a possibilidade de mudar o comando da Polícia Federal. Jardim, que era titular da Transparência, também afirmou não acreditar na existência de uma crise política no Brasil.
Sobre
o órgão que executa as investigações da Operação Lava Jato contra
Michel Temer e ministros do governo, o novo ministro declarou que vai
estudar eventuais alterações na direção da PF. “Vou ouvir a recomendação
do presidente, de outras personalidades que conhecem o assunto, fazer o
meu próprio juízo de valor e decidir. Não vou me precipitar nem
antecipar nada”, afirmou.
Especialista em Direito Eleitoral e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Jardim foi nomeado para o lugar de Osmar Serraglio (PMDB) – que assume a
Transparência – às vésperas do julgamento em que a Corte pode cassar o
mandato do presidente. Tendo cadeira no TSE em dois mandatos, entre 1988
e 1992 e 1992 e 1996, ele reconhece que terá um papel importante na
articulação do governo com o Judiciário, mas diz acreditar que o
julgamento da chapa Dilma-Temer será “técnico”.
“Os ministros
decidirão com base no que está nos autos. Tem a acusação e a defesa, a
inicial e a contestação, como em qualquer ação. No mais, é especulação. A
inicial é referente à 2014 e o que será observado são os fatos e provas
que ali estão”, diz o novo ministro, que também presidiu o Instituto
Brasileiro de Direito Eleitoral (Ibrade) entre 2002 e 2008. O julgamento
deverá ser retomado no próximo dia 6 de março, com a expectativa de que
o relator, ministro Herman Benjamin, apresente parecer favorável à
cassação da chapa, com a saída de Temer do cargo.
Apesar
da crise que atingiu o governo ter sido iniciada após a divulgação da
delação premiada do empresário Joesley Batista, Torquato Jardim disse
não acreditar que existe uma “crise política”, mas sim uma instabilidade
econômica. “O que interessa, em primeiro lugar, é a economia. A crise
não é política – a mídia transformou em crise política –, mas
econômica”, concluiu.
O ministro questionou também a decisão de
Luiz Edson Fachin, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), de abrir
um inquérito para investigar o presidente Michel Temer se baseando em
uma prova “não periciada” – a gravação do diálogo entre Temer e Joesley.
Lava Jato
Questão delicada para todos os ministros que assumem a pasta da Justiça desde 2014, a Operação Lava Jato
deverá ser objeto de atenções do novo ministro. A redução de
aproximadamente um terço do orçamento destinado à Superintendência da
Polícia Federal no Paraná – de 29,1 para 20,5 milhões de reais –, gera
tensões entre os membros da força-tarefa e o governo. O valor destinado
exclusivamente a investimentos na operação também caiu de 4,1 milhões
para 3,4 milhões de reais.
As consequências da redução de verbas
para a investigação são a dificuldade para pagar diárias, realizar
procedimentos e outras ações necessárias, asfixiando financeiramente a
operação.”Isso havia acontecido no começo da operação, mas, depois, os
recursos voltaram. Agora, isso volta a acontecer”, declarou o procurador
Andrey Borges de Mendonça, que participou da Lava Jato e agora atua na
Operação Custo Brasil, sobre desvios no Ministério do Planejamento.
No
sábado, antes da nomeação de Torquato Jardim, havia reafirmado que o
corte de gastos foi linear em todas as áreas da Polícia Federal,
atendendo às diretrizes de economia do governo federal. A pasta
responsável pela PF também negou as dificuldades técnicas na Lava Jato e
disse que “haverá remanejamento de recursos sempre que for necessário
para não haver descontinuidade em operações importantes”.
Um dos
membros atuais da força-tarefa, o procurador Carlos Fernando dos Santos
Lima avaliou a investigação como “superavitária”, por recuperar valores
desviados por esquemas de corrupção. “A Lava Jato é uma operação
superavitária em termos de recuperação de valores para o Estado
brasileiro. Ela custa infinitamente menos do que os valores despendidos
nela”, afirmou.
Desde 2014, a Operação já firmou 155 acordos de
delação premiada e dez de leniência. Segundo a força-tarefa, foram
recuperados até agora 10,3 bilhões de reais – desse total, 3,2 bilhões
em bens já recuperados e 756 milhões em valores repatriados. O pedido da
Lava Jato é o de que os acusados somados paguem 38,1 bilhões de reais,
incluindo multas.
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