Marcelo Odebrecht decidiu atravessar o samba no segundo dia
das conversas com procuradores da Lava Jato que precederam sua delação.
Indagado a respeito de suas relações com o ex-presidente Lula,
respondeu: “O Lula nunca gostou de mim. Quem sempre tratou de tudo com
ele foram o meu pai e o Alexandrino (Alencar, diretor de relações
institucionais)”. A resposta não estava no roteiro que advogados da
empresa haviam traçado diretamente sob a batuta de Emílio Odebrecht, o
pai de Marcelo. Por essa estratégia, Emílio seria poupado de maiores
responsabilidades nos malfeitos da empresa, da mesma forma que
executivos-chave como Pedro Novis, ex-presidente do conselho da Braskem.
Já Marcelo tomaria para si a parte mais pesada da culpa. Isso
permitiria que mais executivos se mantivessem em seus cargos e
continuassem tocando a empresa. Em outras palavras, Marcelo seria o
cordeiro do sacrifício cujo sangue irrigaria o império presente em 26
países e responsável por um faturamento de 125 bilhões de reais em 2015
(a Odebrecht é a maior construtora do Brasil e a 13ª do mundo). Ocorre
que o príncipe dos empreiteiros começou a achar que a conta estava
salgada demais para ele.
Naquele dia em que disse não ser próximo
de Lula e apontou o dedo para o próprio pai, Marcelo implodiu de uma vez
as pontes que ainda o ligavam à empresa. Aos gritos, desafiou os
advogados Theo Dias e Adriano Maia — o primeiro, contratado pela
Odebrecht, e o segundo, diretor jurídico da empreiteira. Ambos
participavam da conversa com os investigadores, juntamente com a irmã de
Marcelo, Mônica, e o também advogado Luciano Feldens — contratado
pessoalmente por Marcelo depois que ele passou a achar que estava sendo
prejudicado na divisão da culpa. A rebeldia do primogênito da família
não apenas selou o seu distanciamento da Odebrecht como também deixou
claro que a relação com Emílio, seu pai, que sempre havia sido
turbulenta, chegava ao seu pior momento.
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