A Justiça Federal do Paraná já abriu cinco inquéritos originados nas
delações da Odebrecht e documentos relacionados às investigações foram
adicionados nesta quinta-feira à ação em que o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva é acusado de lavagem de dinheiro e corrupção passiva por
vantagens recebidas da empreiteira - um prédio adquirido para o
Instituto Lula e uma cobertura vizinha à residência dele em São Bernardo
do Campo.
Os documentos são vinculados a pagamento de propina ao
PT em contratos das plataformas de petróleo PRA–1, P59 e P60; reformas
na refinaria Presidente Vargas (Repar), no Paraná; e na montagem do
gasoduto Gasduc III, além de valores ilícitos que teriam sido pagos por
meio do ex-ministro Guido Mantega ao publicitário João Santana e
anotações onde aparece o sítio de Atibaia como assunto a ser tratado
diretamente com Lula. Segundo o Ministério Público Federal, são
elementos que ajudam a corroborar as delações.
As informações da
Odebrecht fizeram parte de cinco pedidos de investigação (Pet)
encaminhados pela Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal
Federal e redirecionados ao juiz Sergio Moro pelo ministro Edson Fachin.
Neles, os delatores relataram despesas custeadas para o ex-presidente,
como reformas no sítio de Atibaia, compra de imóveis para uso pessoal e
para instalação do Instituto Lula e pagamento de palestras que poderiam
funcionar como uma espécie de retribuição por favores prestados ao grupo
durante o mandato.
Entre os documentos estão agendas de
encontros entre Lula e o empresário Emílio Odebrecht, durante o mandato
presidencial, que mostram que o então presidente recebia detalhes dos
projetos da empreiteira dentro e fora do país. Indicam ainda que
investimentos da Odebrecht no exterior seguiam as decisões geopolíticas
do governo, incluindo a presença e o crescimento de negócios em países
como Angola e Venezuela. Chama atenção ainda a inclusão de contas
bancárias no exterior que receberam valores da Constructora Del Sur, no
Panamá, uma das empresas usadas pela Odebrecht para repassar dinheiro de
propina.
Em 2006, por exemplo, na reeleição de Lula, Marcelo
Odebrecht encaminhou para o pai, Emílio Odebrecht, e para o então
presidente da holding, Pedro Novis, uma lista de nomes que pretendia ver
mantidos no governo. Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, e os
diretores Renato Duque e Paulo Roberto Costa fizeram parte da listagem
que teria sido apresentada ao então presidente.
As anotações dos
pontos a serem discutidos com o presidente Lula incluem desde a
participação da empreiteira nas obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) até projetos específicos, como a Usina de Belo Monte e
a Transnordestina. Há ainda emails trocados entre Alexandrino Alencar,
executivo do grupo, e Gilberto Carvalho, secretário da Presidência no
governo Lula, onde são discutidos encontros com o presidente.
Num
email de 12 de janeiro de 2005 , enviado por Gilberto Carvalho a
Alencar, o empresário Emílio Odebrecht é chamado a conversar com Lula
sobre a participação das empresas chamadas Parcerias Público-Privadas.
"Aprovadas agora as PPPs , o Governo tem pressa em articular
investimentos na infraestrutura. O que o Presidente quer é saber a
opinião do Emílio sobre a tendência das Empresas (se tendem a investir
pesado ou não), em que condições, etc. Basicamente é isso", escreveu
Carvalho.
O documento que a Odebrecht preparou com pedidos a serem
feitos a Lula durante o encontro é bem maior. Um deles era que Lula
priorizasse a relação com a Venezuela o presidente Hugo Chavez. A
empreiteira já operava no país há 13 anos e queria que o governo
brasileiro ajudasse a facilitar os negócios. Uma das sugestões foi que
Lula indicasse um nome, diretamente ligado a ele, para fazer a
aproximação: "Ser identificado um membro do Governo Lula, ligado
diretamente ao Presidente Lula, para a coordenação da relação com o
Governo do Presidente Chávez, preservando/ampliando a relação política e
facilitando a concretização de negócios bilaterais entre os agentes
produtivos (empresários brasileiros/venezuelanos) e também para com
terceiros países. (Brasil corresponder com a prioridade na relação -
idem como é com o Presidente Chávez e seu governo)”
Há sinais de
que o pedido foi atendido. Durante as gestões do PT - de 2003 a 2015, a
Venezuela recebeu US$ 2,03 bilhões do BNDES para investimentos em obras
de infraestrutura, atrás apenas da Argentina. A Odebrecht assumiu obras
do Metrô de Caracas e Los Teques que somaram US$ 1,35 milhões - mais da
metade do valor direcionado ao país pelo BNDES.
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