BRASÍLIA - O Ministério Público Federal (MPF) em Brasília investiga o
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente preso em
Curitiba, por suposto uso da estrutura da Casa e do governo para
defender seus interesses pessoais na Justiça.
Um inquérito civil,
em curso na Procuradoria da República do Distrito Federal há duas
semanas, apura possível improbidade administrativa, por parte do
ex-deputado, pelo fato de ter acionado a Advocacia-Geral da União (AGU)
para tentar anular, mediante recurso, buscas da Polícia Federal nas
dependências do Legislativo.
O caso, originalmente, tramitou na
Procuradoria-Geral da República (PGR), mas foi enviado ao MPF em
Brasília recentemente, após a cassação do mandato de Cunha, o que o fez
perder o foro privilegiado. Os procuradores responsáveis pela
investigação pretendem ouvir o ex-ministro Luís Inácio Adams, que
chefiava a AGU na época.
Em maio de 2015, por ordem do Supremo
Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal fez buscas no Centro de
Informática da Câmara. Na ocasião, colheu provas sobre a autoria de
requerimentos de informação apresentados pela ex-deputada Solange
Almeida (PMDB-RJ), aliada de Cunha, à Comissão de Fiscalização e
Controle da Casa. Os documentos solicitavam ao Tribunal de Contas da
União (TCU) e ao Ministério de Minas e Energia dados sobre contratos do
Grupo Mitsui com a Petrobrás e suas subsidiárias.
Conforme
denúncia apresentada pela PGR ao Supremo, e já aceita, o ex-deputado era
o verdadeiro mentor dos requerimentos, que objetivariam pressionar o
Grupo Mitsui a lhe pagar propinas. Ele negou ter pedido ou recebido
suborno.
Após as buscas, o então presidente da Câmara cobrou da AGU pelo menos
três vezes que apresentasse recurso ao Supremo para anular as provas
obtidas pela PF. Duas delas foram feitas por ofício da Casa, em junho e
julho daquele ano. Por fim, em agosto, segundo declarações de Adams à
imprensa, Cunha lhe telefonou e solicitou que a ação fosse ajuizada.
A
AGU tem um convênio com a Câmara para representá-la na Justiça. Após o
telefonema, o órgão apresentou um agravo ao Supremo, pedindo que as
provas fossem desconsideradas, sob o argumento de que a ação da PF feriu
a “imunidade” da Casa, prevista na Constituição, e o princípio da
separação dos Poderes. O recurso não prosperou.
Afastamento.
O argumento de uso do cargo e da estrutura de órgãos públicos em
proveito pessoal foi uma das bases do pedido do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, para afastar Cunha do cargo, o que aconteceu
em maio do ano passado, meses antes de ele ser cassado.
A defesa
de Cunha informou que não teve acesso ao inquérito civil. Em nota,
alegou que o deputado “jamais fez uso pessoal” da advocacia pública,
“tendo solicitado a atuação daquele órgão (AGU) somente para finalidades
institucionais”. “Fica claro tratar-se de mais um ato injustificado do
Ministério Público em relação ao ex-deputado”, acrescentou.
A
Câmara e a AGU não se pronunciaram. O ex-ministro Luís Inácio Adams
disse que a AGU era a responsável por representar a Câmara perante o
Supremo e, portanto, tinha legitimidade para apresentar o agravo. Ele
afirmou que o pedido de anulação das provas foi ajuizado porque havia
pertinência jurídica. Tanto que, segundo ele, o Supremo deu razão ao
Senado numa ação com pedido semelhante.
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