O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou nesta
quinta-feira o presidente Michel Temer ao Supremo Tribunal Federal (STF)
pela segunda vez. Temer é acusado dos crimes de organização criminosa e
obstrução de Justiça, ao lado dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil)
e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência da República), os
ex-ministros Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ex-assessor
presidencial Rodrigo Rocha Loures(PMDB-PR). Também foram acusados pelo
crime de obstrução de Justiça o empresário Joesley Batista, dono do
Grupo J&F, que controla a JBS, e o diretor de relações
institucionais da empresa, Ricardo Saud, ambos delatores. Eles tiveram
os benefícios da delação premiada suspensos pelo STF.
A denúncia,
que tem 245 páginas, é baseada no conteúdos de depoimentos e gravações
da delação premiada da JBS, nas revelações do doleiro Lúcio Bolonha
Funaro em seu acordo de colaboração e no relatório do inquérito que
investiga a existência de uma organização criminosa no chamado “PMDB da
Câmara”.
No crime de organização criminosa, os peemedebistas são
acusados por Janot de uma “miríade de delitos”, que teria rendido ao
grupo 587.101.098 reais em propina paga por empresas que mantinham
contratos com as estatais Petrobras, Furnas e Caixa Econômica Federal,
além dos ministérios da Agricultura e da Integração Nacional, da
Secretaria de Aviação Civil e a Câmara dos Deputados.
Segundo
Janot, o presidente mantinha “alguma espécie de ascensão” sobre todos os
outros membros do grupo. Enquanto foi presidente do PMDB e
vice-presidente da República, conforme a denúncia apresentada ao STF,
Temer combinava com Eduardo Cunha, Eliseu Padilha, Moreira Franco,
Henrique Alves e Geddel Vieira Lima a ocupação de cargos na máquina
federal e fazia as indicações do grupo aos governos do Partido dos
Trabalhadores.
“Michel Temer dava a necessária estabilidade e
segurança ao aparato criminoso, figurando ao mesmo tempo como cúpula e
alicerce da organização. O núcleo empresarial agia nesse pressuposto, de
que poderia contar com a discrição e, principalmente, a orientação de
Michel Temer”, afirma o procurador-geral da República, que ressalta a
influência de Cunha e Alves, ex-presidentes da Câmara, assim como Temer,
junto a ele.
Janot entende que o “escudo” de peemedebistas em
torno do presidente “fica claro” na relação dos demais denunciados com o
empresariado da construção civil, “grande responsável pela produção de
caixa dois de campanha e pelos pagamentos de propina a políticos e
outros funcionários públicos”. O “PMDB da Câmara” teria recebido doações
eleitorais referentes a acertos de propina das empreiteiras Odebrecht e
OAS.
Com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a
chegada de Michel Temer ao Palácio do Planalto, em maio de 2016,
sustenta a PGR, a suposta organização criminosa do PMDB da Câmara
“continuou com suas atividades criminosas” e, uma vez que seu líder se
tornou presidente da República, assumiu o protagonismo das negociatas
que renderiam propina. Como exemplo, a PGR cita as conversas entre
Michel Temer e Joesley Batista no Palácio do Jaburu, gravadas pelo
empresário, e a indicação de Rodrigo Rocha Loures por Temer como
interlocutor de Joesley no governo para resolver as demandas de suas
empresas. O ex-assessor presidencial foi flagrado pela Polícia Federal
recebendo uma mala com 500.000 reais do executivo Ricardo Saud em São
Paulo.
Obstrução de Justiça
A partir das delações
premiadas de Lúcio Bolonha Funaro e Joesley Batista, Rodrigo Janot
relata na denúncia contra o empresário, Michel Temer e os integrantes do
PMDB da Câmara como teriam se dado tentativas do grupo e da JBS de
obstruir as investigações.
Diante do avanço das investigações da
Lava Jato sobre Funaro e Joesley, os dois teriam firmado um acordo em
que o empresário pagaria 100 milhões de reais ao doleiro para que ele
não aderisse à delação premiada. O dinheiro seria repassado a Funaro em
mensalidades de 600.000 reais ou 400.000 reais e deveria continuar sendo
honrada mesmo que ele fosse preso. E assim foi. Detido em julho de 2016
pela Operação Sépsis, o operador recebia os valores por meio de seus
irmãos Roberta e Dante Funaro. A irmã do doleiro teria recebido de
Francisco de Assis e Silva, diretor jurídico da JBS, 2,8 milhões de
reais, enquanto os repasses a Dante teriam totalizado 1,8 milhão de
reais.
Conforme a acusação apresentada por Janot ao Supremo
Tribunal Federal, o ânimo de Lúcio Funaro em aderir a um acordo de
colaboração com a Procuradoria-Geral da República era monitorado tanto
por Joesley Batista – Roberta Funaro chegou a fazer chegar a ele um
recado dentro de uma caneta – quanto por peemedebistas próximos a Temer,
como Eliseu Padilha e Geddel Vieira Lima.
Foi neste contexto que,
sustenta a PGR, Joesley Batista procurou assessores de Temer para
viabilizar um encontro com o peemedebista. A conversa entre ambos,
intermediada por Rodrigo Rocha Loures, aconteceu na noite do dia 17 de
março, no Palácio do Jaburu, e foi gravada pelo empresário. No diálogo
ele contou a Temer que vinha fazendo pagamentos mensais a Funaro e a
Eduardo Cunha, preso em Curitiba desde outubro de 2016, para garantir o
silêncio deles. “Tem que manter isso aí, viu?”, foi a resposta do
presidente.
“Michel Temer instiga-o a continuar os pagamentos, ao
afirmar, com ênfase e vontade livre e consciente, que ‘precisa manter
isso, viu?”, estimulando-o, assim, a dar continuidade ao pagamento de
vantagem, com o escopo de evitar que as investigações em face do grupo
politico de Michel Temer, que apoiava a própria JBS, bem como do próprio
Joesley Batista, avançassem”, diz Rodrigo Janot sobre a conversa entre
Joesley e Temer, que se deu em uma sala no subsolo da residência oficial
do presidente e não constou da agenda oficial do peemedebista.
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