BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fez um
duro discurso em defesa da Lava Jato, da Procuradoria-Geral da
República, afirmando que o Ministério Público Federal não realiza
coletivas de imprensa em "off" e rebatendo as críticas feitas nesta
terça-feira, 21, pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal
Federal (STF), que acusou a PGR de praticar crimes de vazamento de
conteúdos sigilosos de investigações.
Apesar
de não ter mencionado o ministro do STF em seu discurso, Janot fez
críticas à atuação política de Gilmar Mendes. Janot chamou de "mentira" a
informação de que a PGR realiza "coletivas de imprensa em 'off'", que
foi divulgada pela ombudsman da Folha de S. Paulo, Paula Cesarino Costa, em texto publicado no domingo.
"Aliás,
essa matéria jornalística sequer ouviu o outro lado. Nós não fomos
chamados a nos pronunciar sobre esta mentira", disse o procurador
durante uma reunião de procuradores eleitorais em Brasília. "Aliás, esta
matéria imputa esta prática como sendo uma prática corriqueira nos Três
Poderes da República, e, apesar da imputação expressa de até o STF
[fazer tal prática], não vi uma só palavra de quem teve uma disenteria
verbal a se pronunciar sobre esta imputação ao Congresso, ao palácio e
até ao Supremo", afirmou Janot.
"Só posso atribuir tal ideia a
mentes ociosas e dadas a devaneios, mas infelizmente com meios para
distorcer fatos e desvirtuar instrumentos legítimos de comunicação
institucional", disparou o chefe da Procuradoria-Geral da República. Não
foi a primeira vez em que Janot respondeu a declarações de Gilmar
Mendes críticas ao Ministério Público Federal. Desta vez, Janot preparou
um discurso, mas, nos momentos mais incisivos, não se ateve ao texto.
"Procuramos nos distanciar dos banquetes palacianos. Fugimos dos
círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder político.
E repudiamos a relação promíscua com a imprensa. Ainda assim, meus
amigos, em projeção mental, alguns tentam nivelar a todos a sua
decrepitude moral, e para isso acusam-nos de condutas que lhes são
próprias, socorrendo-se não raras vezes da aparente intangibilidade
proporcionada pela posição que ocupam no Estado", disse Janot.
O
procurador-geral da República disse também que "sempre houve, na
história da humanidade, homens dispostos a sacrificar seus compromissos
éticos no altar da vaidade desmedida e da ambição sem freios". "Esses
não hesitam em violar o dever de imparcialidade ou em macular o decoro
do cargo que exercem; na sofreguidão por reconhecimento e afago dos
poderosos de plantão, perdem o referencial de decência e de retidão",
disse Janot.
Janot disse também que "mesmo quando exercemos nossas
funções dentro da mais absoluta legalidade, estamos sujeitos a severas
e, muitas vezes, injustas críticas de quem teve interesses contrariados
por nossas ações". "A maledicência e a má-fé são verdugos constantes e
insolentes."
Lava Jato. O discurso também citou
os 3 anos de "profícuo trabalho" da Lava Jato. "Do que se revelou no
curso das investigações, é possível concluir que existem basicamente
duas formas de corrupção no País: a econômica e a política. Elas não se
excluem e, em certa medida, tocam-se e interagem."
Janot disse
também que o mérito da Lava Jato foi haver encontrado o veio principal
da corrupção política. Esse tipo de corrupção, como disse, é de
altíssima 'lesividade' social porque frauda a democracia representativa,
movimenta bilhões de reais na clandestinidade e debilita o senso de
solidariedade e de coesão, essenciais a uma sociedade saudável.
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