A segunda denúncia criminal contra o presidente Michel Temer
deve ser oferecida pela Procuradoria-Geral da República na semana que
vem, a última de Rodrigo Janot à frente do Ministério Público Federal. O
procurador-geral disse aos seus interlocutores que a acusação - que
desta vez terá como base pelo menos sete delações premiadas - só sairá
de seu gabinete quando e se estiver madura.
Se confirmadas as previsões, a denúncia virá, portanto, depois do desfecho do caso Joesley Batista.
Janot quer resolver o quanto antes a situação do acordo de delação
premiada do Grupo J&F, atualmente em processo de revisão.
A nova acusação que envolve o presidente da República é diferente da primeira
- em que o foco era apenas sua atuação. Agora, a denúncia será mais
ampla, pois ela trata da formação de uma organização criminosa, o que
implica a atuação de um grupo. O procurador-geral da República prepara
uma acusação que se fundamenta em delações anteriores à do Grupo J&F
e também a um acordo posterior, o do corretor Lúcio Funaro, apontado
pelas investigações como "operador de propinas" do deputado cassado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O
procurador sustentará que há uma organização criminosa formada pelo
grupo ligado a Temer com base em depoimentos que foram prestados desde
as primeiras delações - do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás
Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Também devem ser
usados elementos do acordo da Odebrecht, do operador Fernando Soares,
conhecido como Fernando Baiano, e do ex-diretor da Transpetro Sérgio
Machado.
Dentro
da Procuradoria-Geral da República, a avaliação é de que ainda que se
levante qualquer questionamento sobre o acordo de delação premiada do
Grupo J&F, a nova denúncia contra Temer se sustentará, pois ela "é
robusta e se fundamenta em outros pilares", além da gravação do
presidente feita pelo empresário Joesley Batista no Palácio do Jaburu.
A
defesa de Temer tem usado o argumento das "fragilidades" no acordo,
incluindo a concessão do perdão judicial aos colaboradores, para atacar
Janot e as investigações do procurador sobre o peemedebista.
Reta final.
As investigações por organização criminosa, que tiveram início em 2015,
na primeira leva de inquéritos da Lava Jato encaminhada ao Supremo
Tribunal Federal, têm sido transformadas em denúncias na reta final de
Janot. O procurador-geral da República quer concluir as acusações contra
parlamentares dos três principais partidos que teriam atuado na
Petrobrás - PP, PT e PMDB - antes de deixar o cargo.
Janot já
encaminhou as denúncias com relação ao PP e ao PT e, agora, sua equipe
conclui as peças sobre o PMDB do Senado e da Câmara. O procurador-geral
chegou a pedir ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no
Supremo, a inclusão do presidente Michel Temer na investigação
relacionada ao chamado "quadrilhão" do PMDB da Câmara. Fachin não
incluiu o nome do presidente, mas disse que o procurador poderia seguir
nas investigações relacionadas à JBS.
Apesar de o pedido não ter
sido atendido, a PGR apura a suposta atuação do presidente no que
considera uma organização criminosa formada por políticos e operadores
para praticar crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. O presidente
tem negado as acusações.
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