Brasília
- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma conversa reservada
com o vice-presidente Michel Temer há oito dias, em São Paulo, e
manifestou extrema preocupação com a possível saída do PMDB do governo
diante do agravamento da crise política e econômica. Lula pediu ajuda a
Temer por avaliar que, se o PMDB abandonar Dilma, o processo de
impeachment será deflagrado.
A conversa, mantida sob sigilo,
ocorreu 48 horas depois de Temer dizer a empresários, que Dilma corria o
risco de não concluir o mandato se permanecesse com popularidade tão
baixa.
No mesmo dia em que o vice admitiu, na capital paulista,
ser muito difícil um governante resistir três anos e meio no poder sem
apoio, Lula jantou com Dilma, em Brasília. Aconselhou a afilhada a se
reaproximar de Temer, que comanda o PMDB, e do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Cabe a Cunha, desafeto do governo,
decidir se um pedido de impeachment terá ou não prosseguimento. O script
em discussão por deputados oposicionistas, como os do PSDB, DEM e PPS, e
por dissidentes da base aliada, entre os quais os do PMDB, prevê que
Cunha, num jogo de cena, rejeite o pedido, mas um recurso ao plenário da
Câmara deflagre o processo.
Lula disse a Temer que Dilma parece não estar percebendo a gravidade da crise. Na sua avaliação, a presidente tem muita dificuldade de ouvir, de tomar decisões e de corrigir rumos. O vice reclamou da desconfiança de Dilma e do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Foi além: admitiu que, se o congresso do PMDB, marcado para novembro, fosse hoje, a maioria do partido decidiria pelo rompimento com o governo.
Lula disse a Temer que Dilma parece não estar percebendo a gravidade da crise. Na sua avaliação, a presidente tem muita dificuldade de ouvir, de tomar decisões e de corrigir rumos. O vice reclamou da desconfiança de Dilma e do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Foi além: admitiu que, se o congresso do PMDB, marcado para novembro, fosse hoje, a maioria do partido decidiria pelo rompimento com o governo.
No jantar oferecido por
Temer a governadores do PMDB e ministros do partido, na terça-feira, os
convidados desfiaram um rosário de queixas contra o Planalto. Um dos
participantes afirmou que o partido “jogou uma boia de salvação para
Dilma”, com a Agenda Brasil proposta pelo presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), “mas o governo foi lá e furou a boia”.
A
crise piorou depois que o Brasil perdeu o selo de bom pagador, o
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ameaçou deixar a equipe e um
movimento pró-impeachment ganhou corpo na Câmara, na esteira de um
pedido de afastamento de Dilma apresentado pelo jurista Hélio Bicudo, um
dos fundadores do PT. Para completar o inferno astral petista, a
Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal que Lula seja ouvido
no inquérito aberto para investigar o envolvimento de políticos no
esquema de corrupção na Petrobrás.
Na sexta-feira, em meio a
rumores sobre sua saída da Casa Civil, Mercadante conduziu uma reunião
no Palácio do Planalto para traçar uma estratégia de repactuação da base
aliada. A ideia é que, a partir de agora, haja conversas individuais
com deputados e senadores, e não apenas com os líderes.
O Planalto
não sabe com quantos votos pode contar no Congresso nem mesmo na
votação do projeto de lei do Orçamento de 2016, que escancarou um rombo
de R$ 30,5 bilhões. Na semana passada, ao desabafar com Temer, Lula
afirmou que, sem o apoio do PMDB, Dilma não conseguirá aprovar
“absolutamente nada” no Congresso, muito menos a criação de impostos. O
ex-presidente acha que Dilma erra ao não afrouxar o ajuste fiscal.
“O
problema é que a economia se contaminou pela crise política e, se o
Planalto não agir rapidamente, tudo pode piorar”, admitiu o líder do
governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). “O equilíbrio no Orçamento
deixou de ser uma questão de programa de partidos. Os cortes precisam
ser feitos e, se isso não for suficiente, precisamos buscar fontes de
receita. Reduzir ministérios é um gesto para poder convencer a sociedade
sobre o aumento de tributos”, emendou o deputado Ricardo Barros
(PP-PR), relator do Orçamento de 2016. / Colaboraram Gustavo Porto,
Andreza Matais e Adriana Fernandes
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