sábado, 24 de junho de 2017

Gilmar vai ser relator de inquérito contra Aécio com base na delação da Odebrecht




BRASÍLIA - Um dos inquéritos instaurados no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) com base na delação da Odebrecht foi redistribuído nesta sexta-feira, 23, e ficará sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes após sorteio eletrônico.

O caso diz respeito à acusação de que o então senador recebeu em 2014 valores indevidos pelo grupo Odebrecht para a sua campanha eleitoral. De acordo com delatores, os pagamentos teriam sido feitos de forma dissimulada por meio de contratos fictícios firmados com a empresa PVR Propaganda e Marketing Ltda. O tucano nega as acusações. 

Ao determinar a redistribuição do inquérito, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, concordou com o argumento do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que a investigação não está diretamente relacionada à Operação Lava Jato, de relatoria do ministro Edson Fachin.

“Na espécie vertente, como exposto pelo Procurador-Geral da República, em exposição acolhida pelo relator, ministro Edson Fachin, inexiste conexão entre os fatos narrados no presente inquérito e aqueles relacionados à denominada Operação Lava Jato”, escreveu Cármen Lúcia em decisão desta sexta.

“Pelo exposto, acolho a manifestação do Procurador-Geral da República e determino a livre redistribuição deste inquérito, resguardada a natureza do procedimento, incluídas ao resguardo do grau de publicidade, ou não, a ele imposto até o momento, até decisão do novo relator a quem caberá decidir as questões arguidas no presente processo”, afirmou a presidente do STF.

Janot também tinha pedido a redistribuição de um outro inquérito instaurado contra Aécio com base na delação da Odebrecht, que trata do pagamento de vantagens indevidas para a campanha eleitoral de Antonio Anastasia (PSDB-MG) ao governo de Minas Gerais em 2010. Delatores afirmaram que, a pedido de Aécio, pagaram R$ 5,4 milhões em "vantagens indevidas" para a campanha de Anastasia.

O procurador-geral da República ainda solicitou a prorrogação em 60 dias do prazo de conclusão das investigações nos dois casos. Até a publicação deste texto, esse segundo inquérito ainda não tinha sido redistribuído.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Cunha escreve à mão os termos de delação premiada, diz jornal




cunha stf © image/jpeg cunha stf 
 
O ex-deputado Eduardo Cunha estaria há mais de um mês escrevendo à mão os termos de uma proposta de delação premiada, de dentro da sua cela de prisão, segundo a Folha de S.Paulo.

Cunha escreve, em folhas brancas soltas, as histórias que quer contar ao Ministério Público, em um acordo de delação negociado no âmbito da Lava Jato.

Entre as histórias que o ex-deputado pode revelar, haveria um suposto esquema de propina para liberação de verbas do Fundo de Investimento do FGTS.
 
Segundo a reportagem, o trabalho começou na segunda semana de maio. No dia 20 do mês passado, ele tinha dito a advogados que não teria “estômago” para fazer delação premiada.

Segundo pessoas próximas de Cunha, ele resolveu mudar de ideia em relação a um acordo depois de saber que Lucio Funaro, apontado como seu operador, também resolveu fazer delação.

Ainda na semana passada, Eduardo Cunha prestou depoimento à Polícia Federal negando ter sido procurado para fazer delação.

No mesmo depoimento, também negou as implicações da delação de Joesley Batista, afirmando que seu silêncio “nunca esteve à venda” e dizendo que não estava recebendo dinheiro para não contar o que sabe.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Senador que chamou Temer de corrupto tem 3º aliado demitido



Senador Hélio José (PMDB-DF) durante reunião deliberativa da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) para apreciação do PLC 38/2017, que trata da reforma trabalhista - 20/06/2017 © Marcos Oliveira Senador Hélio José (PMDB-DF) durante reunião deliberativa da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) para apreciação do PLC 38/2017, que trata da reforma trabalhista - 20/06/2017

Um dia depois de ter chamado o presidente Michel Temer (PMDB) de “corrupto”, após dois apadrinhados seus terem sido demitidos do governo federal por causa do seu voto contrário à reforma trabalhista em comissão do Senado, o senador Hélio José (PMDB-DF) viu outra aliada sua na administração ser demitida: Aline Rezende Peixoto perdeu o cargo de superintendente do Ibama no Distrito Federal.

A demissão foi publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira. Na quarta-feira, um dia após o senador contrariar o governo, foram exonerados Vicente Ferreira, da Diretoria Planejamento e Avaliação da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), e Nilo Gonsalves, que era superintendente do Patrimônio da União no Distrito Federal (SPU-DF).

Após as duas primeiras demissões, Hélio José partiu para o ataque ao governo Temer. “Nós não podemos permitir que o governo transforme votações em balcão de negócios. Esse governo está podre. Esse governo corrupto tinha que ter vergonha na cara e renunciar”, afirmou.

O peemedebista surpreendeu o governo ao votar contra o relatório do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) sobre a reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). Um texto alternativo, contra a reforma, do senador Paulo Paim (PT-RS) foi aprovado por 10 votos a 9.

“A reforma trabalhista é equivocada. Vem precarizar ainda mais as relações de trabalho. É inadmissível que um governo mergulhado nesse emaranhado de corrupção tome esse tipo de atitude de retaliação de quem quer fazer as coisas de forma adequada. É uma falta de consideração”, afirmou Hélio José na quarta-feira.”Não dá para ser coagido, chantageado, por causa de posto no governo.”

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Avança no Senado possibilidade de revogar mandato presidencial




Para acionar processo de revogação, seriam necessárias assinaturas de ao menos 10% dos eleitores © EBC/Agência Brasil Para acionar processo de revogação, seriam necessárias assinaturas de ao menos 10% dos eleitores 
 
A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado aprovou por unanimidade nesta quarta-feira (21/06) a PEC batizada de recall, que permite à população revogar o mandato do presidente da República. A proposta segue para ser analisada no Plenário e precisa ser votada em dois turnos.

A PEC 21/2015, proposta pelo senador Antonio Carlos Valadares (PSB) e modificada pelo relator, o senador Antonio Anastasia (PSDB), estabelece que a população pode pedir o recall do mandato presidencial se forem reunidas as assinaturas de ao menos 10% dos eleitores que compareceram ao último pleito, distribuídas em ao menos 14 estados. Em cada uma das unidades federativas, as assinaturas recolhidas não podem equivaler a menos de 5% dos eleitores.

Caso alcance esse número, o pedido de revogação será votado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado e precisa da maioria absoluta em ambas as Casas para ser aprovado. Após essa fase, um referendo popular é convocado para ratificar ou rejeitar o recall.

A PEC restringe ainda o pedido de revogação ao segundo e ao terceiro ano de mandato. Caso o processo seja ratificado, quem assume o cargo é o vice-presidente.

Na proposta original de Valadares, o recall poderia ser acionado também para os mandatos de governadores, prefeitos, senadores, deputados federais e estaduais e vereadores. O senador Anastasia, no entanto, vetou a aplicação da medida ao Legislativo e a restringiu ao cargo de presidente.

Temer fora de risco

Anastasia também cortou a possibilidade de que a proposta pudesse ser aplicada no caso do presidente Michel Temer, se o eleitor desejasse. O texto original previa que a medida entraria em vigor a partir de sua promulgação, e o texto final aprovado prevê que, se Senado e Câmara aprovarem, a medida só entrará em vigor a partir de 2019.

Anastasia, senador tucano da base do governo, disse que a adoção do mecanismo no momento atual poderia trazer dificuldades e desestabilização.

Ele destacou que o recall é bem diferente do impeachment. Segundo ele, a revogação do mandato pelo eleitorado difere do procedimento do crime de responsabilidade principalmente pela causa: a perda de representatividade e apoio da população.

A PEC segue agora para análise no Plenário da Casa. Para ser aprovada, ela precisa dos votos de pelos menos três quintos dos senadores, em dois turnos. Somente depois, segue para ser votada na Câmara dos Deputados.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Fachin tira de Moro três processos contra Lula e outro contra Cunha



Agência O Globo

Processos se baseiam na delação da Odebrecht e não têm relação com a Lava Jato. © Foto: Rodolfo Buhrer/Reuters Processos se baseiam na delação da Odebrecht e não têm relação com a Lava Jato.
 
O ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que três processos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com base na delação de executivos da Odebrecht sejam retirados da Justiça Federal do Paraná e encaminhados a outros órgãos. Dois casos serão enviados à Justiça Federal do Distrito Federal e outro para a Justiça Federal de São Paulo. Fachin também determinou que um processo do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha seja enviado à Justiça Federal do DF, e não para o Paraná.

As decisões de Fachin foram tomadas depois de pedidos feitos por Lula e Cunha. Eles não queriam que esses processos ficassem sob responsabilidade do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos da Lava-Jato. Na avaliação deles, tais processos não têm relação com os desvios na Petrobras, foco da operação, e por isso deviam ser encaminhados para outros juízes.

Em um dos processos encaminhado à Justiça Federal do DF, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, dona da empresa que leva seu sobrenome, contou que Lula usou sua influência no governo para favorecer a companhia em Angola. "Tratando-se, portanto, de fatos que supostamente se passaram na Capital da República, já que nesta eram travadas as discussões que eventualmente beneficiariam a atuação do Grupo Odebrecht em Angola, em detrimento, em tese, do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), devem as cópias dos termos de depoimento ser remetidas à Seção Judiciária do Distrito Federal para as providências cabíveis", argumentou Fachin.

O outro trata de propina para as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, em Rondônia. "Tratando-se, portanto, de supostos fatos que se passaram na cidade de São Paulo, na qual eram realizados os pagamentos, motivados, a partir de determinado momento, pelo prestígio do ora agravante na condição de Presidente da República - circunstância que atrai a competência da Justiça Federal (art. 109, IV, da Constituição Federal) -, devem as cópias dos termos de depoimento ser remetidas à Seção Judiciária de São Paulo para as providências cabíveis", escreveu Fachin.

No processo enviado para São Paulo, dois executivos da Odebrecht - Alexandrino Alencar e Hilberto Mascarenhas - relataram pagamentos a José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão de Lula, que receberia pagamentos em dinheiro da empresa. "Tratando-se, portanto, de fatos que se passaram na Capital da República e cometidos, em tese, no exercício de funções públicas federais, devem as cópias dos termos de depoimento ser remetidas à Seção Judiciária do Distrito Federal para as providências cabíveis", argumentou Fachin em sua decisão.

No processo relacionado a Cunha, executivos da Odebrecht relataram que em 11 de fevereiro de 2015, quando ainda era presidente da Câmara, ele os chamou para sua residência oficial. Na ocasião, Cunha teria sugerido que a empresa contratasse a empresa de investigação privada Kroll para identificar inconsistências de dois delatores da Lava-Jato: Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef. O objetivo seria atrapalhar as investigações.

"Logo, como os fatos narrados se passaram na Capital da República e supostamente se voltam contra investigação que tramita no âmbito da Justiça Federal (art. 109, IV, da CF/88), mais adequada se revela a remessa de cópia dos respectivos termos de depoimento à Seção Judiciária do Distrito Federal", disse Fachin.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Lula diz que ‘desgraça tomou conta’ do país em evento com metalúrgicos



Agência O Globo

Semana pode ser decisiva para ex-presidente, com sentença de Moro. © Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula Semana pode ser decisiva para ex-presidente, com sentença de Moro. 
 
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “a desgraça tomou conta desse país” desde que o presidente Michel Temer assumiu o poder após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Lula fez o ataque direto a Temer no domingo à noite, durante a posse de Wagner Santana como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). A semana pode ser decisiva para Lula, já que o juiz Sérgio Moro pode, a partir da próxima quarta-feira, proferir a sentença contra ele no caso do tríplex. 

— Antes, toda desgraça era culpa do PT e da Dilma. Então, demonizaram o partido e a presidenta, tiraram a Dilma, colocaram o (Michel) Temer e o que aconteceu? Aí que a desgraça tomou conta deste país — disse Lula, em discurso, citando o desemprego e exortando os metalúrgicos a “não fecharem os olhos” para “reconquistarem seu direito de cidadania”; 

Lula fez o ataque direto a Temer após a entrevista de Joesley Batista à revista “Época”, em que o dono da JBS acusa Temer de chefiar “a quadrilha mais perigosa do Brasil’. Sem citar as palavras de Joesley, que na mesma entrevista disse que a corrupção foi institucionalizada a partir do governo do PT, Lula se referiu ao governo Temer como “ditadura” e “governo ilegítimo”. E disse que Dilma, “mesmo cometendo erros”, havia sido eleita. 
 
No discurso, Lula aproveitou para criticar as reformas, dizendo que “querem jogar a crise do país em cima dos trabalhadores e dos aposentados”. 

— Mas nós temos que dizer a eles: ‘não tem que tirar direito de trabalhador e aposentado. Temos que fazer a economia crescer, gerar emprego, aumentar salários. Aí, a Previdência então vai dar conta — afirmou. 

SENTENÇA PODE SAIR A PARTIR DE QUARTA

A partir da próxima quarta-feira (21), o juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, poderá proferir a qualquer momento sua sentença no processo em que Lula é réu no processo do tríplex do Guarujá. O Ministério Público já apresentou suas alegações finais, e a defesa de Lula tem até terça-feira para apresentar suas alegações finais — a partir daí Moro pode dar a sentença.

domingo, 18 de junho de 2017

Aécio teme prisão e diz viver situação ‘kafkiana’




Aécio Neves: Senador Aécio Neves dentro de sua residencia, em Brasília 
  © Wilton Junior/Estadão Senador Aécio Neves dentro de sua residencia, em Brasília 
 
Fechado em sua casa no Lago Sul, em Brasília, desde o dia 17 de maio, quando foi divulgado conteúdo do áudio que registrou o pedido de R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista sob o argumento de que precisava de dinheiro para custear sua defesa na Operação Lava Jato, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem dito a quem o visita que sua situação é “kafkiana”.

Segundo aliados que estiveram com ele nos últimos dias, o tucano avalia que em condições normais de temperatura e pressão o pedido de prisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot – previsto para ser analisado na próxima terça-feira pelo Supremo Tribunal Federal –, seria rejeitado.

O senador avalia, porém, que no atual cenário tudo pode acontecer. Esse temor se cristalizou quando a Primeira Turma do STF manteve a prisão de sua irmã, Andrea Neves. Ao saber da decisão, Aécio se desesperou. O tucano não consegue conter o choro quando fala sobre Andrea. “Ele está profundamente indignado, sobretudo com a situação da irmã”, disse José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela.

Apesar de recluso, Aécio tem se articulado em várias frentes para tentar impedir sua cassação no Senado, evitar a implosão completa de sua base política em Minas e reforçar sua defesa pública. Ele também tem atuado na vida partidária e foi um dos responsáveis pelo movimento que manteve o PSDB na base de Michel Temer, pelo menos por ora.

Minas. Aécio também montou uma força-tarefa para impedir uma debandada de quadros do PSDB mineiro para outros partidos. O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) e o deputado federal Marcos Pestana (PSDB-MG) assumiram a linha de frente do grupo que por mais de dez anos foi majoritário na política de Minas.

O plano A para 2018 é apoiar o ex-presidente da Assembleia Dinis Pinheiro (PP) para o governo. Antes da divulgação da gravação, o senador esperava disputar o Senado.

Agora, se não perder os direitos políticos e não for preso, tentará a Câmara. “É cedo para dizer o que vai acontecer. Aécio está sendo investigado, mas outros tucanos também estão”, afirmou o deputado federal Caio Nárcio (PSDB-MG). 

O senador afastado também tem mantido conversas regulares com caciques tucanos. Seus interlocutores mais frequentes são os ministros Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Bruno Araújo (Cidades), o senador Tasso Jereissati. Aécio tenta demonstrar que não está politicamente isolado mas tem tomado alguns cuidados para evitar que seus movimentos sejam considerados obstrução de Justiça. 

Como teme estar grampeado, as conversas mais delicadas, sobretudo com o PMDB, são feitas pessoalmente ou por meio de interlocutores.

Pessoas próximas ao senador consideraram um erro a postagem feita na semana passada nas redes sociais de uma foto que mostrava uma reunião em sua casa com caciques tucanos. A imagem está sendo usada pela Procuradoria-Geral da República para embasar o pedido de prisão contra o tucano. Aécio se esforça para manter um clima de normalidade em sua rotina familiar. Na semana passada sua sogra organizou um almoço para celebrar o aniversário dos filhos gêmeos. Depois dos parabéns, o senador se retirou para uma reunião com deputados mineiros.

Em 5 pontos, entenda o que acontece se Janot denunciar Temer ao STF




Michel Temer: Se a maioria no STF decidir tornar Temer réu, ele ficaria afastado por até seis meses do cargo © EPA Se a maioria no STF decidir tornar Temer réu, ele ficaria afastado por até seis meses do cargo 
  Pressionado por graves denúncias desde a divulgação da delação premiada da JBS, o presidente Michel Temer ganhou certo fôlego nos últimos dias com as decisões do Tribunal Superior Eleitoral de não cassar seu mandato e do PSDB de não deixar o governo.

No entanto, a expectativa é que até a próxima semana o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente uma denúncia contra Temer ao Supremo Tribunal Federal, o que abriria nova ameaça ao seu mandato.

Se isso ocorrer, será a primeira vez que um presidente brasileiro é denunciado por crime comum no exercício do cargo. Para que Temer seja julgado pelo STF, porém, a Constituição estabelece que primeiro a Câmara precisa autorizar a abertura do processo, em votação similar a de abertura de um processo de impeachment.

Abaixo, entenda melhor o que esperar dessa denúncia e quais seus possíveis desdobramentos.

1) Qual deve ser o conteúdo da denúncia

A expectativa é de que Janot apresente uma denúncia tendo como base investigações iniciadas a partir da delação premiada da JBS, com autorização do ministro do STF Edson Fachin. No momento, o inquérito aberto contra Temer apura supostos crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e formação de quadrilha.

Temer é suspeito de ter dado aval para que o empresário Joesley Batista comprasse o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso pela Lava Jato. Uma gravação da conversa entre os dois ainda está sendo periciada pela Polícia Federal.

Além disso, o presidente também é acusado de ter indicado seu ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures como interlocutor de sua confiança para a JBS encaminhar pedidos ao governo. Posteriormente, Loures foi gravado recebendo uma mala de R$ 500 mil em propina de um representante do grupo.

2) O que acontece após apresentação da denúncia?

Se Janot apresentar a denúncia, a expectativa é de que Fachin faça um exame formal mínimo de seu conteúdo e a encaminhe para a Câmara dos Deputados.

Lá, o presidente da casa, Rodrigo Maia, não tem poder individual de barrar o trâmite - diferentemente do que ocorre no pedido de impeachment - e deve imediatamente encaminhar a questão para uma análise prévia da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
 
Na CCJ, há um prazo de dez sessões para o presidente apresentar sua defesa e mais cinco para o deputado que for indicado como relator do caso apresentar seu parecer, contra ou a favor do andamento da denúncia. O relator tende a ser aliado de Temer, já que o governo tem, hoje, maioria no Congresso.

O parecer será votado então na CCJ e, seja qual for o resultado, depois segue para análise do plenário da Câmara. Assim como no processo de impeachment, quando os deputados decidem se autorizam que o Senado julgue o presidente por crime de responsabilidade, no caso da denúncia por crime comum a ser julgado no Supremo, também é preciso um quórum alto para aprovar a abertura do processo - três quintos da Câmara, ou 342 votos do total de 513.

Hoje, o governo tem maioria no Congresso e por isso seus aliados se dizem confiantes de que vão barrar a denúncia. A ideia é não usar os prazos máximos para apresentação da defesa de Temer e conclusão do relatório, mas é provável que a oposição tente retardar esse processo, na expectativa de que aumente o desgaste do presidente.

"Vamos tentar acelerar isso ao máximo, talvez em dez dias a gente consiga resolver", disse o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), um dos que esteve à frente da defesa de Eduardo Cunha e agora se mostra fiel aliado de Temer.

O deputado ressalta, porém, que por enquanto só há "especulações" de que haverá denúncia. "A denúncia contra o presidente tem que ser calcada em provas. Quero ver se ela vem, ainda tenho dúvidas com relação a isso", afirmou.
 
Para o professor de Direto Constitucional Thomaz Pereira, da FGV do Rio de Janeiro, o cenário não é totalmente seguro para Temer, já que novas denúncias e fatos negativos têm surgido a toda hora contra o presidente e seus aliados.

"Por mais que ele tenha os votos hoje (para barrar a denúncia na Câmara), ninguém sabe como vai ser o dia de amanhã. Então, por mais confiante que se esteja, é claro que tem um risco. Pode acontecer algum fato político que afete esse cálculo de votos", afirma.
Procurador-geral Rodrigo Janot: Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar denúncia contra Temer ao Supremo Tribunal Federal © Reuters Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar denúncia contra Temer ao Supremo Tribunal Federal 
  Ele ressalta que a sessão da Câmara deve ser semelhante a do impeachment, com cada deputado votando abertamente no microfone, em sessão televisionada ao vivo.

"Esses deputados vão ter que votar sim ou não pessoalmente, publicamente. Não está claro o quanto isso afetaria a votação", destaca.

3) Por que a Constituição dá à Câmara poder de barra a denúncia?

Segundo Thomas Pereira, da FGV, esse desenho institucional tem como objetivo proteger o presidente de uma eventual perseguição indevida do Ministério Público e do Judiciário.
Michel Temer: O presidente Michel Temer foi perssionado após as delações da JBS, mas ganhou fôlego nos últimos dias © Getty Images O presidente Michel Temer foi perssionado após as delações da JBS, mas ganhou fôlego nos últimos dias 
 
 
Esse é justamente o discurso que Temer tem adotado em sua defesa, ao acusar Janot de atuar politicamente, com objetivo de derrubá-lo.

"O freio existe, bem ou mal, para impedir um outro tipo de crise, que seria uma instituição não eleita (o Ministério Público) perseguindo um presidente eleito", observa. 
 
"Se não é isso que está acontecendo, e não me parece que seja, o ônus que os deputados teriam caso não autorizem o prosseguimento de uma eventual denúncia é explicar sua decisão para a população. A Câmara é formada por deputados eleitos, o que se imagina é que eles sejam responsivos ao que os cidadãos consideram de tudo isso", ressalta Pereira.
 
A professora de Direito Constitucional da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Estefânia Barboza lembra que um presidente no Brasil é eleito com mais de cinquenta milhões de votos, o que confere muita legitimidade a seu mandato.
 
"É diferente de um deputado, por exemplo, que é eleito com milhares de votos. Por isso, a Constituição dá maior proteção ao cargo de Presidente da República, dividindo a responsabilidade do julgamento entre a Câmara e o Supremo", afirma. 
 
Além disso, destaca a professora, quando o presidente vira réu, ele fica afastado do cargo por até 180 dias, enquanto ocorre o julgamento. "É algo grave, também por isso é preciso dividir a responsabilidade". 

4) E se denúncia chegar ao STF?

Caso a Câmara autorize o STF a julgar Temer, o processo não é aberto automaticamente. Nesse caso, o plenário do Supremo, formado por onze ministros, analisará conjuntamente se aceita a denúncia de Janot. 

Quem marca esse julgamento sobre o recebimento da denúncia é a presidente da corte, Cármen Lúcia, depois que o relator do caso, Edson Fachin, concluir seu voto. 

"Tendo autorização da Câmara, assim que o Fachin liberar a denúncia, imagino que seria pautada automaticamente pela presidente. Acho que não existe nada no comportamento do ministro Fachin que indique que ele demoraria com isso", afirma Pereira. 

Se a maioria decidir tornar Temer réu, ele ficaria afastado por até seis meses do cargo, período no qual o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assumiria interinamente o comando do país. 

Um processo criminal no STF costuma durar em média mais de cinco anos, segundo dados da FGV, mas um processo contra o presidente, por sua gravidade, tenderia a ser mais rápido. 

"Como ele ficaria afastado por até seis meses, acredito que o Supremo daria prioridade absoluta a esse processo, porque cria uma instabilidade muito grande no país", afirma Estefânia Barboza.

Se Temer vier a ser condenado pelo STF, como já se passou metade do atual mandato presidencial, a Constituição determina que sejam convocadas eleições indiretas para que o Congresso escolha um presidente e um vice para concluir o mandato até 2018. 

Se ele for absolvido em eventual processo, retomaria o comando do país. 

5) E se a denúncia for barrada na Câmara?

Se de fato, como o governo espera, a Câmara barrar o andamento da denúncia, Pereira acredita que Temer continuaria enfraquecido pelas acusações da Lava Jato, com baixa condição de governabilidade. 

"É claro que, no prazo imediato, o governo ficará aliviado. No entanto, no médio e no longo prazo, a opinião pública conta, os eleitores contam. Ele pode até concluir o mandato, mas em que condições vai governar? E em 2018, como isso vai se refletir nas urnas em relação aos partidos que estão dando sustentação para esse governo nessa situação?", questiona.

"Se o presidente tem tanta certeza de que não há elementos para esse processo ir à frente, seria melhor para todo mundo, inclusive para ele, que, se essa denúncia não for à frente, que não vá por uma decisão substantiva do Supremo Tribunal Federal, que é a instituição com maior competência jurídica para fazer essa análise", disse também. 

Para Antonio Lavareda, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), se a Câmara barrar o andamento de uma eventual denúncia, o país continuará a assistir nos próximos meses "a queda de braço" entre Temer e Janot, cujo mandato termina em setembro. 

"Há claramente uma disposição da Procuradoria de dificultar sua permanência e sua agenda, e de outro lado há um esforço do presidente e da sua equipe para manterem a agenda e as condições de governabilidade", afirmou.

"O Ministério Público é um quarto poder que não está submetido a nenhum dos três outros (Executivo, Legislativo e Judiciário). E esse quarto poder, na aliança que fez com a Polícia Federal e elementos da magistratura (juízes) de primeiro grau, encampou a tarefa de por fim ao governo Temer, e está fazendo o possível com esse objetivo", acrescentou.