São Paulo – A recessão pode fazer com que o Brasil termine 2015 com um milhão de vagas formais a menos do que começou, de acordo com as últimas estimativas de consultorias econômicas e até órgãos oficiais.
“Dado a intensificação da crise, é possível que o ano se encerre com destruição total superior a um milhão de empregos formais”, diz um documento recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência.
A GO Associados e um estudo do Conselho Federal de Economia (Cofecon) do início de agosto também preveem saldo negativo de 1 milhão. 
A última estimativa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) é de perda entre 1,17 milhão e 1,16 milhão. Para a LCA Consultores, o número é ainda maior: cerca de 1,2 milhão de vagas formais.
Em termos absolutos, é o pior resultado da série histórica do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que começa em 1992.
Mulher espera para ser atendida em agência de emprego do governo: vagas estão sendo cortadas rapidamente© Paulo Fridman/Bloomberg Mulher espera para ser atendida em agência de emprego do governo: vagas estão sendo cortadas rapidamente
Em termos relativos, a destruição entre 3% e 4% do total de vagas formais é próxima do que ocorreu em 1998, quando 581 mil foram eliminadas (cerca de 3% do estoque de trabalho na época, que dobrou desde então).
Histórico
O processo de piora do mercado de trabalho vem acontecendo de forma acelerada desde o começo do ano. O saldo de criação de vagas formais caiu todos os anos desde 2010, mas 2014 ainda teve resultado positivo.
 
Saldo de vagas formais
20081.452.204
2009995.110
20102.136.947
20111.566.043
2012868.241
2013730.687
2014152.714
2015 (est.)-1.227.952
Quando se olha o acumulado dos 12 meses até julho de 2015, a destruição é de 850 mil postos – pior número desde o começo da série em 1996.
8,3 milhões de brasileiros procuram emprego e não encontram, segundo o IBGE. A taxa de desemprego pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) em 6 capitais pulou de 5,3% em janeiro para 7,5% em julho, maior patamar em 5 anos.
A taxa de desemprego pela PNAD Contínua foi de 7,9% no 1º trimestre para 8,3% no 2º trimestre. O Ministro do Trabalho e Emprego, Manoel Dias (PDT), diz que não acredita em uma volta para os dois dígitos.
As últimas previsões de consenso do mercado, captadas pelo Boletim Focus, preveem uma recessão de 2,55% em 2015 e 0,60% em 2016. As expectativas se deterioraram rapidamente: há um mês, as projeções eram de 2,01% e 0,15%, respectivamente.
Setores
A indústria já perdeu 185 mil vagas no ano passado; neste ano, serão mais 495 mil - a maior perda absoluta entre os setores. Mas como ela emprega mais, a campeã de perda relativa é a construção civil: que eliminou 145 mil vagas em 2014 e deve perder mais 356 mil em 2015.
“A indústria é o setor mais dinâmico em relação à crise e a bonança. É o mais reativo e já vem com pior desempenho há mais tempo”, diz Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
Serviços e Comércio, até pouco tempo relativamente preservados, também já estão cortando vagas diante da situação difícil. 1.280 lojas fecharam no Rio de Janeiro entre janeiro e maio, alta de 33% sobre o mesmo período de 2014, segundo o Sindilojas Rio.
Só a Via Varejo, dona das Casas Bahia e do Ponto Frio, demitiu 4,8 mil pessoas no 2º trimestre. Os bancos fecharam 5.864 postos de trabalho entre janeiro e julho de 2015. 
“A menor criação de vagas em Serviços, até então resiliente aos efeitos contracionistas, indica que as condições no mercado de trabalho devem continuar se deteriorando ao longo deste ano com reflexo na elevação do desemprego”, diz Gesner Oliveira, economista da GO Associados.
Nem a Agropecuária vai escapar. Veja os números de 2014 do Caged junto com a projeção da LCA Consultores para este ano:
 
Saldo em 2014Saldo em 2015 (est.)
Indústria-185.124-495.170
Construção Civil-145.286-356.463
Comércio124.838-169.856
Serviços379.166-173.106
Agropecuária-20.880-33.357
Total152.714-1.227.952
Tudo isso também deve contribuir para no mínimo interromper e até reverter, ainda que na margem, a formalização do mercado de trabalho brasileiro – que foi de 45,7% em 2004 para 58% em 2013.