Por ANDREZA EMÍLIA MARINO
A maior causa de brigas entre irmãos é o nada. Sério. Isso quer dizer que crianças brigam por qualquer coisa, não existe uma causa específica. Até por volta dos 8 anos, as brigas não são muito elaboradas: as razões variam de “porque ele me olhou de um jeito que não gostei” ou para definir quem entra primeiro no carro, quem senta do lado da mamãe, quem toma banho depois. Insira aqui tantos “motivos” quanto sua memória conseguir lembrar ou sua imaginação conseguir criar.
Para a psicóloga Natércia Tiba, nessa faixa etária, as crianças têm o pensamento abstrato pouco evoluído. Então, quando um irmão chama a irmã de feia, por exemplo, ela tem certeza absoluta de que é feia. Isso causa uma ofensa enorme. E, como se imagina, as reações são sempre desproporcionais.
As brigas entre irmãos são naturais e, vistas do ponto-de-vista psicológico, uma excelente oportunidade de treino para os relacionamentos exteriores. “Eu posso fazer o que quiser e ele continua me amando e sendo meu irmão”, diz Natércia. “Mas se faço isso com o colega da escola, por exemplo, ele deixa de ser meu amigo”. A grande intimidade e o amor incondicional favorecem os excessos, explica. Como os pais bem sabem, o embate é a mistura entre experimentação e provocação.
Como tomar partido?
Em meio ao choro, gritos e ranger de dentes, os pais têm mania de querer resolver pelo que acham justo. E é aí que mora o perigo. Se você não viu tudo o que aconteceu – e quase sempre não dá para ver a briga até que ela tenha explodido – fica impossível fazer justiça. “Sugiro tentar transformar os irmãos em uma equipe. Isso quer dizer que, em caso de atrito, os dois se dão mal e têm que arcar com consequências”, esclarece a psicóloga e terapeuta familiar.
Dessa forma, é interesse para ambos resolver a pendenga. “A discussão pode estar acalorada. Mas, dado momento, o mais sensato irá se lembrar de que precisam solucionar de forma cordial”, ilustra. De acordo com ela, situações como essa ajudam as crianças a ter noções de limite para a briga e a pedir ajuda aos adultos. Mas não se iluda: isso se consegue aos poucos.
Agência MBPress© Stock Photos Agência MBPress
A especialista recomenda, no entanto, muita cautela. Das brigas entre irmãos na infância podem ser tiradas lições preciosas para a vida adulta deles, mas também pode surgir um sentimento ruim, que é capaz de seguir vida afora. “Os pais precisam aproveitar a oportunidade e ajudar as crianças a diferenciar entre estar com raiva e sentir ódio. A raiva é passageira”, ensina.
Cada filho, uma necessidade
Como depois da tempestade costuma vir a bonança, convém aos pais pontuar os momentos em que tudo está calmo. “Os adultos são os indicados para mostrar aos filhos o quanto eles se dão bem (não vale falar que se amam, porque aí vem outra briga!), como eles se gostam (sim, as palavras têm peso!) e como saber ficar juntos em harmonia. Isso ajuda as crianças a entenderem os sentimentos para que possam diferenciá-los e nomeá-los”, informa Natércia.
A psicóloga comenta que uma fonte inesgotável de atritos é a competição, muitas vezes, fomentada pelos pais (sem querer, claro). “Filhos não têm que fazer tudo igual, nem precisam ter tudo igual. Cada pessoa é única”, frisa. Ela exemplifica: com boas intenções, os pais dão algo de que um filho precisa e, para compensar o outro, dão algo de que ele não precisa, ou inventam uma demanda.
“O adulto não precisa ficar ansioso, nem se sentir injusto. Basta saber esperar a hora de agir”. Ela explica ainda que as frustrações fazem parte do dia-a-dia, e que passamos por elas e sobrevivemos. “Elas nos tornam mais fortes, e um dos papeis da infância é justamente oferecer esse treinamento”, conclui.