Tantas vezes adiada e
modificada, a carta de Dilma Rousseff teve recepção fria no Congresso, e
a avaliação majoritária, entre aliados e opositores, é que a mensagem
contra seu impeachment chegou fora de hora e não terá impacto sobre os
senadores. Não só os indecisos não devem se sensibilizar. O senador Otto
Alencar (PSD-BA), que votou duas vezes contra o impeachment, sinalizou
que pode mudar de posição e avaliou ontem que Dilma será cassada com 60
votos. Já o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), até pouco
tempo um dos principais aliados de Dilma no Congresso, criticou a defesa
de um plebiscito para decidir sobre antecipação de eleições gerais.
—
Na democracia, a melhor saída sempre é a saída constitucional e
plebiscito e novas eleições não estão previstos na Constituição. Então
isso não é bom — disse Renan.
Já o senador Otto Alencar disse que a carta de Dilma não muda nada.
—
A repercussão no plenário foi zero. É extemporânea e muita coisa
poderia ter sido evitada se lá atrás ela tivesse assumidos seus erros.
Tem uma frase do imperador Júlio César que diz: quando o sofrimento
atinge o auge, renuncie. Mas cada um tem seu limiar do sofrimento. Eu
não aguentaria 10%. Eu passei um ano e tanto pedindo a Dilma sobre meu
projeto da revitalização do São Francisco e nada. O gesto do presidente
Temer acatando meu projeto mexeu comigo — admitiu o senador baiano, cujo
voto já é computado pelo Planalto como favorável ao impeachment.
O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) — cujo voto foi buscado insistentemente por Dilma — não gostou da carta:
—
Não acredito que mude nada. Primeiro, não é uma carta aos senadores. O
que recebi foi uma cópia de uma mensagem da presidente da República ao
Senado e ao povo brasileiro. Na forma, Dilma já começou errando. Se ela
queria tocar o senador, deveria mandar-lhes a carta com um cartãozinho
pessoal. Em segundo lugar, chegou muito tarde. Ela teve meses para fazer
isso. Por fim, o mais grave, ela não apresentou nada de concreto de
como, em sua volta, levaria o Brasil a sair da crise que ela nos deixou.
A
tropa de choque dilmista ainda tentou mostrar otimismo. A senadora
Fátima Bezerra (PT-RN) foi à tribuna ler a carta. O líder do PT,
Humberto Costa (PT-PE), apoiou a inclusão do apoio ao plebiscito e disse
ser possível vencer a disputa do impeachment:
—
Até o momento da votação dá tempo para fazermos esse convencimento. Não
há um crime de responsabilidade e, como tal, esse processo está se
transformando num processo contra a democracia brasileira. O melhor
caminho seria esse (realização de plebiscito).
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