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Alguns
mitos sobre a sexualidade feminina se propagam há tanto tempo que
acabam encarados como verdade absoluta para todas as mulheres. Erro
grave. Cada uma é única, e o desejo não pode ser enquadrado em regras.
Até na mitologia grega o prazer feminino e o masculino já foram
motivo de polêmica. Zeus e Hera (Júpiter e Juno, para os romanos) teriam
debatido arduamente sobre quem mais se satisfazia na cama: homens ou
mulheres. Para definir a questão, resolveram consultar Tirésias, um
mortal que, por causa de um encanto, tinha sido as duas coisas. Para
surpresa (e fúria) da guardiã dos casamentos, ele testemunhou que elas
sentiam muito mais prazer – e foi punido pela divindade com a cegueira.
Embora talvez menos acalorada, essa discussão continua frequente.
Quando não a respeito da intensidade do prazer, sobre o que o desperta –
eles gostam disso, elas daquilo. Porém, ao separar toda a humanidade em
dois únicos grupos, fica impossível não cair na generalização
grosseira. Pior: com o passar do tempo, esses preconceitos e heranças
culturais ultrapassadas, de tão repetidos nas conversas com amigos, na
TV, no cinema, acabam se solidificando como verdades incontestáveis.
“A repressão sexual da mulher é histórica”, lembra a ginecologista
Lúcia Lara, coordenadora do Ambulatório de Estudos em Sexualidade Humana
da Universidade de São Paulo (USP). “Isso faz com que nossa expressão
nessa área seja mais cheia de regras.” A australiana Rachel Hills,
autora de The Sex Myth (O mito do sexo, em tradução livre), entrevistou
mais de 200 homens e mulheres no Reino Unido, Canadá, nos Estados Unidos
e na Austrália para diferenciar o que as pessoas dizem que fazem entre
quatro paredes do que realmente acontece ali. “Quando nos é vendido o
modo como o sexo deve ser, muita gente cuja vida sexual não corresponde a
essa noção fica desconfortável”, afirmou ela a CLAUDIA. “Durante a
pesquisa, uma frase que ouvi repetidamente delas foi que eram ‘como
homens’ em relação a sexo, querendo dizer que tinham um grande apetite e
que desejavam transar mesmo sem estar em um relacionamento.
Mas, se tantas se sentem dessa forma, não seria correto pensar que
isso também é ser ‘como uma mulher’?”, indaga. A seguir, especialistas
ajudam a derrubar esse e outros mitos que ainda hoje regem a sexualidade
feminina:
O desejo do homem depende muito de estímulos visuais, o da mulher não
É comum dizer que eles se excitam com o que veem, enquanto, para
elas, mil fatores contam mais do que a aparência: a inteligência, a voz,
o clima... Mas um abdome malhado e uma barba bem aparada são
afrodisíacos, sim. “O visual é o primeiro fator de atração em um
encontro para qualquer um”, lembra a psicóloga Lígia Baruch, autora de
Uma Revolução Silenciosa – A Sexualidade em Mulheres Maduras (Novas
Edições Acadêmicas). “Em aplicativos como o Tinder, sucesso entre ambos
os sexos, você escolhe primeiro pela foto e só depois vem a conversa.”
Nas relações longas, a atração física pode ser vital para reanimar o
desejo que os anos tendem a amornar.
Mulheres sempre precisam de preliminares
O problema aqui é o “sempre”. A maioria precisa de estímulo no
clitóris para chegar ao orgasmo. Mas nem todas e nem em qualquer
situação. “Quando se parte de uma fantasia sexual, por exemplo, a mulher
pode não precisar das preliminares”, diz a ginecologista Lúcia Lara.
Carícias nos seios, beijos no pescoço? Para muitas, elas podem vir não
antes, mas acompanhadas da transa.
Tamanho não é documento
No sexo, o que importa é o atrito, que deve estar amenizado pela
lubrificação, mas os centímetros são um fator a ser levado em conta. “O
pênis estimula as terminações nervosas da vagina quando entra e sai, e
isso leva ao prazer”, explica a sexóloga Carmita Abdo, coordenadora do
Projeto Sexualidade (ProSex) da USP. “O pênis pequeno ou fino demais não
preenche o canal vaginal e não permite esse atrito”, completa. Da mesma
forma, quando ele é grande demais, pode machucar. “Se não houver uma
performance que o aproveite, não adianta nada”, lembra Carmita.
Mulher só curte sexo com amor
Essa é outra visão ultrapassada, de quando se esperava que as mulheres fossem apenas mães e esposas exemplares. “É como se o sentimento as autorizasse a fazer sexo. Se ela ama, então pode se relacionar sexualmente e até trair. Tudo é mais aceito sob o signo do amor”, aponta Carmita Abdo. “É muito bom quando sexo e amor estão juntos, mas isso é um privilégio. Amando ou não, todas as pessoas têm necessidades sexuais.”
Essa é outra visão ultrapassada, de quando se esperava que as mulheres fossem apenas mães e esposas exemplares. “É como se o sentimento as autorizasse a fazer sexo. Se ela ama, então pode se relacionar sexualmente e até trair. Tudo é mais aceito sob o signo do amor”, aponta Carmita Abdo. “É muito bom quando sexo e amor estão juntos, mas isso é um privilégio. Amando ou não, todas as pessoas têm necessidades sexuais.”
Masturbação é bom para conhecer o corpo
Embora também sirva para descobrir mais sobre a própria anatomia e
desejos, não é essa a função principal da masturbação. Afinal, quem se
toca como se a prática fosse uma lição de casa? “Esse discurso traz uma
espécie de permissão para que a mulher não se sinta culpada por estar se
estimulando sozinha”, diz Carmita Abdo. “É claro que, antes de conhecer
o corpo, ela estará se dando prazer.”
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