Decisão foi em linha com as expectativas dominantes no mercado. © Foto: Reuters Decisão foi em linha com as expectativas dominantes no mercado.
Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira pela quinta reunião seguida a taxa básica de juros em 14,25 por cento ao ano, em decisão dividida e em linha com as expectativas dominantes no mercado, sugerindo que não deve cortar a Selic tão cedo apesar da fraqueza na economia e em meio à alta inflação.
Há três reuniões as decisões do Copom são divididas, com os diretores Sidnei Corrêa Marques (Organização do Sistema Financeiro) e Tony Volpon (Assuntos Internacionais) votando pela elevação dos juros em 0,5 ponto percentual.
A dinâmica se repetiu nesta quarta-feira, com a manutenção da Selic sendo votada pelos seis demais integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom).
"É preciso ficar atento aos votos dos dissidentes, porque eles é que vão dar o viés do Copom. Quando eles mudarem os votos deles, isso vai querer dizer que o Copom vai baixar os juros na próxima reunião", disse o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
O comunicado do BC nesta quarta-feira veio praticamente igual ao da última reunião, em janeiro, com a diferença de que, desta vez, a autoridade monetária citou incertezas em sua ponderação, ao invés da "elevação das incertezas".
"Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, e considerando as incertezas domésticas e, principalmente, externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25 por cento ao ano, sem viés", informou.
A mudança no comunicado, segundo o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, significa a "confirmação de que as incertezas se elevaram".
"Confirmou-se determinado nível de incerteza que justifica a manutenção (da Selic)", disse.
Em pesquisa Reuters, 49 de 50 economistas previram que a Selic permaneceria no mesmo patamar que ocupa desde julho do ano passado.
A falta de consenso entre os membros do Copom diminui a chance de queda dos juros no curto prazo, mas alguns agentes ainda veem possibilidade de corte da Selic mais para o fim do ano.
"Apesar do dissenso de dois votos por elevação de 50 pontos na taxa, a gente acredita que ele (Copom) está mantendo o viés de corte de juro em algum momento. A nossa expectativa é que seja no segundo semestre do ano, mais para o final", disse a economista do Banco Santander Tatiana Pinheiro.
Pesquisa Focus do BC, que ouve semanalmente uma centena de economistas, mostrou que a expectativa é que Selic feche este ano a 14,25 por cento e, 2017, a 12,50 por cento.
Nas últimas semanas, autoridade do BC --incluindo o presidente Alexandre Tombini-- foram a público para afastar enfaticamente a possibilidade de corte de juros neste momento. Ressaltaram, ao mesmo tempo, que viam queda de 2 pontos percentuais da inflação ainda no primeiro semestre.
Por ora, a inflação segue persistentemente alta. Prévia da inflação oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) teve alta de 1,42 npor cento em fevereiro, acumulando em 12 meses 10,84 por cento, bem acima da meta do governo de 4,5 por cento, com banda de tolerância de 2 pontos percentuais.
O BC vem repetindo o compromisso de trazer a inflação aos limites da meta neste ano, para fazê-la convergir para 4,5 por cento em 2017. Pelo Focus, as projeções são de que o IPCA ficará em 7,57 por cento este ano e em 6 por cento em 2017.
(Reportagem adicional de Silvio Cascione e Alonso Soto)