O senador cassado Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) reagiu às citações feitas a ele pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-Al), em conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que fechou acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato. "O Renan, como o Eduardo Cunha (presidente afastado da Câmara), deve sair urgentemente. Ele deve cair. Renan é o Senhor dos Anéis, faz o que quer, manipula tudo, usurpa", afirmou Delcídio.

Em aúdio revelado nesta quinta-feira pelo Jornal Hoje, da TV Globo, Renan aparece orientando um suposto representante de Delcídio a respeito do processo por quebra de decoro parlamentar contra o ex-petista que corria no Conselho de Ética do Senado. "O que que ele (Delcídio) tem que fazer... Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde... Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias... Família pagou... A mulher pagou...", orienta Renan a um homem chamado Vandenbergue, que responde: "Ele (Delcídio) só vai entregar à comissão, fazer essa carta e vai embora". O ex-presidente da Transpetro entregou os áudios à Procuradoria-Geral da República em seu acordo de delação premiada, homologado ontem por Zavascki.

Delcídio ficou indignado com o teor das conversas e afirmou que a sua cassação foi "manipulada" pessoalmente por Renan. "Ele (Renan) tinha medo da minha delação, ele tinha comprometimento com o Palácio do Planalto". O ex-senador também explicou quem era o interlocutor do presidente do Senado nas conversas: "Esse Vandenbergue é um cara que eu conheço há muito tempo. Ele é diretor da CBF, mas se criou sempre no PMDB. Começou como chefe de gabinete do Marco Maciel no Ministério da Educação (governo Sarney) e depois fez carreira no PMDB, especificamente com o Renan", afirmou.

O ex-senador relata que "tinha boas relações" com Vandenbergue. "Mas achei estranho que ele ia ao meu gabinete aparentemente para prestar solidariedade, para me visitar e o caramba, mas agora percebo que ele ia a mando do Renan para sondar, para saber se eu ia mesmo fazer delação premiada. Vandenbergue sempre frequentava o meu gabinete, sempre uma relação boa, amistosa, mas o interesse dele era efetivamente me monitorar. Não só a mim como a minha família. A mando do Renan."

"Fomos perceber mais na frente um pouco que não era solidariedade do Vandenbergue. Ele estava sendo mandado pelo Renan para me monitorar. Como eu tinha uma boa relação com o Vandenbergue, me foi oferecido para minha defesa o filho dele, que é advogado. Ele se apresentou para advogar de graça para mim. Mas ele não é meu advogado", completou Delcídio.

Na avaliação de Delcídio, o diálogo entre Renan e Vandenbergue revela a preocupação do presidente do Congresso em tirar seu mandato, o que ocorreu no dia 10 maio por um placar devastador - 74 dos senadores votaram a favor da saída de Delcídio e nenhum contra.
(Com Estadão Conteúdo)