Montevideu,
05 nov (Lusa) – A ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff (2011-2016)
afirmou hoje, em Montevideu, que o seu país é ingovernável devido à
“fragmentação partidária”, que leva também a uma viragem à direita da
ideologia política.
“É impossível que um país com a complexidade
do Brasil tenha uma frente que seja capaz de garantir a
governabilidade”, afirmou Dilma durante uma conferência de imprensa que
antecedeu a sua participação na iniciativa “Eu Defendo a democracia”, na
sede da Frente Ampla, coligação no poder no Uruguai.
A antiga
chefe de Estado sustentou ainda que “qualquer partido progressista
popular e democrático que chegue ao poder terá extremas dificuldades,
não para formar uma aliança específica, mas por causa da crise que vive
hoje o sistema político brasileiro ao estar extremamente fragmentado”.
Rousseff
disse aos jornalistas que, no Brasil, há “cerca de 25 partidos que
exercem atividade parlamentar e 52 à espera do registo do Tribunal
Superior Eleitoral, o que representa uma fragmentação partidária
monumental”.
“Ninguém pode pensar que existem 25 programas de
governo para o Brasil: não existem. O que leva esta fragmentação são
duas coisas: o acesso ao fundo partidário – que são os recursos públicos
destinados aos partidos e o tempo de antena”, apontou.
Rousseff
afirmou ainda que quando era Presidente precisava do apoio de 14
partidos para obter uma maioria simples de votos no Congresso, enquanto o
seu antecessor, Luis Ignacio Lula da Silva, (2003-2010) dependia de
seis partidos, e Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) de apenas três.
A
antiga chefe de Estado reconheceu que apesar de ela e Lula terem
protagonizado Executivos de esquerda, o povo também acabou por formar
parlamentos “mais conservadores”, o que torna mais difícil o ato de
governar.
Rousseff também criticou o antigo presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha, que se encontra atualmente detido por
crimes de corrupção, por ter estruturado uma “hegemonização” dos
partidos de centro – como o Partido do Movimento Democrático Brasileiro
(PMDB), do qual faz parte o atual Presidente do país, Michel Temer.
“O
centro deixou de ser progressista e passou a ser neoliberal e
extremamente conservador, não apenas do ponto de vista dos direitos
individuais, mas também dos coletivos e sociais”, destacou Rousseff.
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