SÃO PAULO - Três delatores da Lava-Jato podem ter invalidado seus acordos de colaboração com a Justiça. O Ministério Público Federal (MPF) pediu, nesta sexta-feira, para a Justiça avaliar se Fernando Moura, Roberto Trombeta e Rodrigo Morales descumpriram seus acordos de delação premiada por mentir, deixar de entregar documentos, não pagar multa ou por cometer crimes após se comprometer a ajudar nas investigações.
O lobista Fernando Moura, acusado de receber R$ 2,3 milhões de propina e de atuar na indicação de cargos comissionados na Petrobras, supostamente ao lado do ex-ministro José Dirceu, mentiu sobre sua delação ao prestar depoimento em janeiro. Em 22 de janeiro, ao ser ouvido pelo juiz Sérgio Moro, o lobista negou que tivesse lido o acordo antes de assiná-lo e disse que não recebeu de Dirceu uma recomendação para deixar o país quando estourou o escândalo do mensalão.
Moura voltou atrás seis dias depois, após ser alertado que poderia perder os benefícios que recebera por causa da delação premiada, como o direito de responder ao processo em liberdade. Ao se retratar, disse que sofreu uma "ameaça velada" para mudar seu testemunho. No dia 28, ele disse novamente que recebeu uma dica para viver no exterior durante o processo do mensalão.
Os outros dois delatores que terão seus acordos com a Justiça revistos são o contador Roberto Trombeta e seu sócio, Rodrigo Morales. De acordo com o MPF, os dois não forneceram documentos que comprovam crimes que eles delataram, como haviam prometido e deixaram de pagar a multa prevista no acordo. Os procuradores estão apurando, ainda, indícios de envolvimento da dupla em "novos fatos criminosos" após assinar a colaboração com a Justiça.
Em sua delação, Trombeta deu detalhes do uso de empresas de fachada para lavar dinheiro das empreiteiras OAS e UTC. O dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou que, em 2010, usou os serviços de Trombeta para fazer repasses ao caixa dois das campanhas do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) e do atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT-SP). Ambos negam envolvimento nas irregularidades.
A Justiça vai dar a palavra final sobre a situação desses três acordos de delação premiada. Caso a Justiça decida invalidar os acordos, as provas que já foram produzidas pelos delatores poderão continuar a ser utilizadas no processo. Os colaboradores, porém, perdem "todos os benefícios que receberiam em razão da colaboração, como redução de pena e suspensão de processos", afirma o MPF.