segunda-feira, 30 de novembro de 2015

BTG Pactual busca se separar de fundador preso


Bloomberg

(Bloomberg) -- O bilionário brasileiro André Esteves renunciou a todos os seus cargos no Grupo BTG Pactual após ser preso por tempo indeterminado e os líderes do banco passaram o fim de semana em negociações de emergência para a venda de ativos e a aquisição de sua participação controladora.
Roberto Sallouti e Marcelo Kalim, ambos sócios da empresa, assumirão como co-presidentes, disse o BTG no domingo à noite. Pérsio Arida, que foi nomeado presidente interino quando Esteves foi preso em meio a uma investigação de corrupção, na semana passada, se tornará presidente do conselho. Huw Jenkins, sócio que também faz parte do conselho da empresa, será o vice- presidente do conselho.
O BTG está correndo para acalmar os investidores depois que a prisão de Esteves, em 25 de novembro, fez as ações caírem 26 por cento, dobrou os yields sobre os bonds de referência do banco e levou os clientes a retirarem R$ 4,2 bilhões (US$ 1,1 bilhão) de alguns de seus fundos de renda fixa mais líquidos em dois dias. Esteves, 47, que transformou a empresa no maior banco de investimento independente da América Latina e atuou tanto como presidente do conselho quanto como presidente, teve um pedido de liberdade negado no fim de semana. Seus advogados negaram as acusações de que ele tentou interferir no depoimento de uma investigação de corrupção.
O Supremo Tribunal Federal estendeu sua detenção, inicialmente estabelecida em cinco dias, por tempo indeterminado. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que apresentou o pedido com base em itens apreendidos na semana passada e em depoimentos de pessoas sob investigação. Em uma nota enviada por e-mail, a procuradoria-geral disse que vê uma “falta extremamente grave” na conduta de Esteves.
Em uma carta enviada a clientes na sexta-feira, Arida disse que o banco tinha uma base sólida e que não faz parte de nenhuma investigação.

A cara da empresa

Esteves está preso sob a suspeita de ter tentado interferir no depoimento de um ex-executivo da Petrobras que foi preso em janeiro sob a acusação de pagamento de propinas. A nomeação de novos líderes pelo BTG não foi provocada pela crença de que Esteves participou de irregularidades, mas sim pela necessidade de lidar com a turbulência criada por sua prisão, segundo uma fonte próxima às deliberações.
Não será fácil virar a página com uma simples mudança de liderança. Esteves há muito tempo é sinônimo da empresa, conduzindo-a a um rápido crescimento. Ele fez uma brincadeira de que a sigla significava “better than Goldman” (“melhor que o Goldman [Sachs]”). O sucesso e a personalidade de Esteves lhe deram estatura muito longe de seu mercado doméstico.
“O risco para a empresa se deve ao fato de André Esteves ser a empresa”, disse Mark Williams, autor de “Uncontrolled Risk” (“Risco descontrolado”), um livro sobre a ascensão e o colapso do Lehman Brothers, após a prisão de Esteves, na semana passada. “A empresa é construída em torno dele”.
Os sócios da empresa, buscando isolar o banco de sua penúria e conter os saques dos fundos, estão tentando fechar as condições para compra de sua participação controladora, disse uma fonte informada sobre o assunto no domingo, pedindo anonimato porque as discussões são privadas. As negociações continuam e nenhum acordo foi concluído.

Venda de ativos

Como parte de um impulso para aumentar o caixa, o banco está procurando vender sua participação restante de 12 por cento na empresa de hospitais Rede D’Or São Luiz, disseram duas fontes informadas sobre o assunto na semana passada. O comprador mais provável é o fundo soberano de investimento de Cingapura, o GIC Pte, disse uma fonte informada sobre o assunto no domingo.
O BTG preferiu não comentar sobre os próximos passos, vendas de ativos ou saques de fundos do banco. Representantes da Rede D’Or e do GIC preferiram não comentar. Ainda pode demorar dias para que um acordo seja fechado, disse uma fonte.
Declarações regulatórias deste ano mostram que Esteves possui uma participação de 22 por cento a 24 por cento no banco. A empresa tinha um valor total no mercado de ações de cerca de R$ 21,4 bilhões na sexta-feira. A participação dele no BTG também inclui a chamada golden share (ação de ouro), que garante a ele o controle efetivo da empresa, disse uma fonte. Indagado sobre as negociações para venda da participação do bilionário, o advogado de Esteves encaminhou as perguntas ao BTG, que preferiu não comentar.
-- Com a colaboração de Francisco Marcelino, Ney Hayashi, Klaus Wille, Ambereen Choudhury e Katia Porzecanski.
Para entrar em contato com os repórteres: Cristiane Lucchesi em São Paulo, clucchesi5@bloomberg.net; Paula Sambo em São Paulo, psambo@bloomberg.net; Jonathan Levin Rio de Janeiro, jlevin20@bloomberg.net Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto, tmarotto1@bloomberg.net Patricia Xavier

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